Um estudo inédito da Associação Portuguesa de Sinalização e Segurança Rodoviária (AFESP), relativo a números do ano passado, revela que a má sinalização está na base de muitos acidentes nas estradas de Portugal. “Cerca de metade das estradas nacionais apresenta marcas com valores de retroreflexão abaixo do mínimo exigido, tornando-se imperceptíveis para os condutores”, evidenciou Ana Raposo, secretária-geral da AFESP, adiantando ainda que o distrito do Porto “é dos mais afectados”.

Segundo o estudo, um em cada cinco acidentes são provocados por sinalização insuficiente ou em mau estado. “A má sinalização representa 20% a 30% da sinistralidade do nosso país”, declara Ana Raposo.

Tal situação poderia ser facilmente resolvida, entende, pois é um problema de “retorno imediato”. “O custo da sinalização em Portugal é extremamente reduzido em relação a quaisquer obras na infra-estrutura rodoviária ou ao custo que corresponde à alteração de comportamentos ou da legislação”, afirmou ao JPN a secretária-geral.

Foram 18 os distritos que entraram para o estudo que traça um “mapa negro” da rede rodoviária nacional. Não há pesquisas anteriores para que se possam comparar dados, mas Ana Raposo garantiu que as condições da sinalização não melhoraram relativamente a anos anteriores. “O Inverno foi bastante rigoroso e admitimos que o estado de algumas marcas se tenha deteriorado um pouco mais”, admite, no entanto.

Não há números concretos quanto à sinalização de estradas municipais, mas Ana Raposo considera que a “situação seria, ainda, mais caótica”. Juntamente com a Grande Lisboa, o Grande Porto é uma das zonas onde o cenário é pior, “nomeadamente por via de ausência de passadeiras ou de passadeiras que nunca sofreram a devida manutenção e são imperceptíveis para os condutores”.

Passadeiras preocupam peões no Porto

“É um risco diário”, garantiu Ana Raposo, já que o maior número de sinistrados acontece em estradas municipais e a má sinalização pode ser uma das causas. As queixas também se fazem ouvir por parte dos moradores, que se mostram insatisfeitos com a sinalização.

“Há muitos sinais que estão tapados por árvores ou por outras coisas e não se vêem”, afirma Joana Cabral, estudante do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). No entanto, Joana Cabral, considera que não são só os condutores os culpados. “Acho que as pessoas deviam ser mais educadas, pois também há muitos peões que não se sabem comportar”, refere.

Já para Ana Freire, o grande problema surge junto dos semáforos. “Há determinados sinais luminosos que demoram muito tempo a passar para verde e, por isso, muitas pessoas arriscam-se a passar no vermelho, porque tem de esperar sempre muito”, entende.

E foi exactamente numa passadeira que Celeste Santos, enfermeira de profissão, apanhou um grande susto. “Ali em S. Lázaro, eu tinha direito a atravessar a rua e um ‘fulaninho’ quase que me matava”, conta a enfermeira que não tem dúvidas em afirmar que, no entanto, “podiam melhorar a sinalização”. Alfredo Anjos, também ele residente no Porto, dá um exemplo de má sinalização na cidade.”Há um sítio em que a passadeira está à frente do portão e é onde se fazem os exames de condução, acha isto bonito?”, ironiza.

As passadeiras são as queixas maioritárias dos portuenses. Mas há mais perigos na sinalização. Sinais virados para casas, opostos ao sentido do trânsito ou em mau estado de conservação não ajudam na circulação dos automobilistas. No entanto, para quem anda todos os dias na estrada, os problemas são outros.

Teresa de Castro, taxista há 18 anos, considera a sinalização temporária a maior preocupação. “Quando fazem obras, põem a sinalização muito mal”, refere, acrescentando que os condutores “nem sabem para onde se virar, nem para onde ir”.