O “II Encontro Sobre os Estuques Portugueses”, começou hoje, quarta-feira, no Palácio da Bolsa e continua amanhã com mais um conjunto de conferências.

No centro do debate de quarta-feira esteve o restauro do Salão Árabe e a intervenção realizada nos estuques das paredes e tectos, local onde decorreu o encontro. Um dos objectivos do encontro prende-se com a sensibilização da opinião pública e profissional para a importância e a fragilidade dos estuques portugueses, enquanto património desprotegido pela História da Arte.

No debate participaram Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, Pedro Gago, sócio fundador da ONG “Conservadores Sem Fronteiras – Grupo Portugal” e do Núcleo de Conservação e Restauro, e Luís Figueiredo, mestrando em Gestão do Património Cultural na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa.

Rui Moreira refere que “a obra de restauro não terminará”, pois é um trabalho contínuo. “Se nós também tratamos do nosso corpo todos os dias, porque não haveremos de fazer o mesmo com os edifícios?”, questiona.

Já Pedro Gago entende que “desde o início, o Salão Árabe foi construído como um salão de aparato, mas mais que isso, é um salão de serão”. O conservador referiu, ainda, que “os materiais estavam muito degradados por fuligens, sais, fungos e até mesmo cogumelos”. “A iluminação a gás, o trânsito automóvel e as entradas de água resultaram na deterioração do salão”, acrescenta. Contudo, a falta de conservação até agora fez com que quase todos os materiais do salão fossem ainda os originalmente colocados.

O restauro Passo-a-passo

As obras de restauro estão a ser efectuadas nos estuques das paredes e tectos, nas portas, e, ainda, nos vitrais que decoram o interior da sala nobre de visitas do Palácio da Bolsa. Esta foi fruto do trabalho exclusivo de artistas portugueses e construído sob autorização de D.Maria II e demorou 18 anos a ser concluído.

Os dois principais problemas encontrados durante o restauro prendem-se com a preservação dos materiais originais e a reintegração cromática das lacunas, em particular do dourado, porque “as pessoas estão habituadas a ainda olhar para a arte como algo brilhante”, completou Pedro Gago.

A solução encontrada para estes problemas foi reintegrar tintas acrílicas nas lacunas, de forma ilusionista, imperceptível. “Os materiais originais eram de boa qualidade, pois duraram cem anos. É importante conserva-los”, finalizou o restaurador.

O primeiro passo do restauro foi a limpeza a seco, para retirar as fuligens. Seguiu-se a limpeza de materiais e cores, a maior parte feita com água álcool, excluindo o ouro, para que não ocorresse o processo de oxidação. O terceiro passo consistiu na colagem de materiais, com gesso, a que se seguiu a consolidação e preenchimentos. O penúltimo e sexto passo foi a dessalinização, que permitiu retirar sais dos materiais da parede. Por último, o sétimo passo constou no ornamento e reintegração cromática.