Ontem, quinta-feira, o primeiro dia da I International Graduate Conference on Media and Communication (ICMC) ficou marcado pela presença de Philip Hammond, professor na Universidade de South Bank, em Londres, que com a palestra “Vender guerra aos media” reflectiu sobre as “vendas” das guerras aos media por parte dos governos. No entanto, salienta, os meios de comunicação social não estão isentos de culpa.

“Os governos vendem a guerra aos media, mas já foi ao contrário”, começou por dizer o também membro do conselho editorial do jornal “Media, War & Conflict” e investigador de conflitos pós Guerra-Fria.

ICMC:

A ICMC, a realizar-se no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, começou na quinta-feira, dia 13 de Maio, e termina hoje, sexta-feira. A encerrar, o professor Paulo Macini discursa sobre política e media às 18h15.

Centrando-se, primeiro, na Guerra do Golfo, Hammond ressalvou que os governos tentaram “vender” a guerra aos media, sob o pretexto de esta ser “uma guerra do interesse” de todos. Esta era, porém, “a primeira razão”. Na verdade, o “interesse do petróleo” falou mais alto, tendo sido criada uma verdadeira imagem “demoníaca” de Saddam Hussein.

Também o movimento de apoio ao Kuwait fez “parte da venda da guerra pelo governo norte-americano”. Nesta altura, começaram a surgir “histórias falsas” que a administração dizia serem “verdadeiras” para conseguir o apoio da opinião pública através dos media. Não passariam, pois, de “propagandas” da guerra.

Philip Hammond afirma, assim, que “pode ver-se um padrão na forma como se vendeu a Guerra do Golfo, em 1991, a Guerra do Iraque em 2003, entre outras”. No entanto, evidencia que “foram os media que começaram a vender a guerra aos governantes”, esclarecendo que, na década de 90, “os jornalistas passavam a ideia do bom e do mau” e acabavam por persuadir a opinião pública.

Neste contexto, o professor destaca o tablóide britânico “The Daily Mirror” por se ter alheado da defesa da guerra norte-americana, constituindo, assim, “uma excepção na corrente de apoio” ao conflito militar, já que a cobertura noticiosa dos outros jornais era uma defesa “à guerra do Presidente Bush”. “Os EUA passaram duas ideias acerca das últimas guerras: a luta contra o mal e o trabalho humanitário.”

O estudo de Philip Hammond centrou-se em conflitos militares de um passado recente, mas o professor garante que hoje em dia é diferente. Agora “é mais difícil vender a guerra”, explica. A experiência de guerras passadas e a evolução de mentalidades está na origem da mudança. “As pessoas são mais racionais e já estão mais atentas”, culmina.