“Recursos a Voar: como decidir o investimento público em tempo de crise”, foi o título encontrado por Álvaro Nascimento e Álvaro Costa para a obra que revisita o estudo de 2007 “Portela +1” e o evidencia como a melhor solução para a necessidade de um novo aeroporto em Lisboa.
“Em vez de encerrarmos a Portela de uma vez por todas e construir um novo aeroporto para transferir todo o tráfego”, explica Álvaro Nascimento sobre a hipótese já apresentada em 2007, a melhor opção seria “retirar-se da Portela apenas o tráfego low cost“, conseguindo, desta forma, uma maior disponibilidade para o aeroporto, que já está quase a atingir a capacidade máxima de 18 milhões de passageiros. “Se eu admitir que temos cerca de doze milhões de passageiros em full service e cerca de quatro milhões em low cost, de facto eu estou a atingir o limite de capacidade na Portela”, sublinha.
O livro “não é uma contribuição política, é uma contribuição técnica, científica”, ressalva Rui Moreira, presidente da Associação do Comércio do Porto, que também esteve presente na apresentação do livro hoje, segunda-feira, no Palácio da Bolsa.
A revisita do estudo Portela +1 surge numa altura em que se agrava a crise em Portugal e, por isso, “são mais prementes as exigências da boa utilização dos investimentos públicos”. Assim, adaptou-se a pesquisa a 2010, já que o contexto mudou. “Estamos com uma volatilidade maior da procura de full service, o que significa que existe mais incerteza do que vai acontecer”, explica Álvaro Nascimento. “A segunda tem a ver com a taxa de crescimento low cost estar a ser muito mais lenta do que inicialmente estava previsto”, esclarece Álvaro Nascimento.
Estes factos acabaram por mudar a realidade portuguesa mas, segundo o estudo, a opção Portela +1 continua a ser mais rentável. “O investimento de forma gradual vai permitir poupanças significativas no erário público”, poupanças essas que o estudo estima que se aproximem “dos 800 milhões de euros”, avança o autor. Tal poupança é significativa até porque, como refere Álvaro Nascimento, “a economia portuguesa tem muito pouca margem de manobra para se fazer investimentos.”
Metodologia “inovadora”
Para além disso, foi também apresentada na obra uma metodologia “inovadora” para a escolha do modelo de desenvolvimento do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). São quatro as questões que se colocam na metodologia, passando o modelo por primeiro decidir qual a construção do NAL (se em aeroporto modelar ou Portela +1), saber qual a organização industrial (em monopólio ou em concorrência), qual o modelo de privatização (público ou não) e qual o quadro regulatório.
“Ao fazer-se essa opção, o que se está a fazer é economizar no investimento”, explica Nascimento, já que “se está a investir de uma forma mais gradual”. Assim, o Portela +1 seria construído por partes, consoante a evolução do movimento e poder-se-ia mesmo equacionar a hipótese de, a longo prazo, se mudar definitivamente toda a actividade para o novo aeroporto. “Nesse caso, tinha-se feito um trabalho prévio, porque foi-se construindo um aeroporto aos poucos e, quando se tornasse necessário, transferia-se e só aí é que se fazia o grande investimento”, refere.
Com esta opção, o país pouparia “num investimento que, de outra forma, teria de fazer e que estaria ali inutilizado”, adianta o autor, acrescentando que o país “teria de pagar juros por causa do financiamento e custos de manutenção”, despesas significativas “para quem está a gerir um aeroporto”.
Para além disso, há outro facto a ter em conta. “Há, neste momento, um significativo investimento na Portela que aumenta a sua capacidade”, pelo que o encerramento aquando do aeroporto de Alcochete “não rentabilizava” esses investimentos.