Corria a década de 70 quando Manuel Correia Fernandes iniciou a sua actividade enquanto professor na “antiga” Escola de Belas Artes do Porto. “Aí comecei a minha carreira académica que acaba hoje.” Ao fim de 40 anos a trabalhar na Universidade do Porto (UP), o arquitecto despediu-se hoje, quinta-feira, da Faculdade de Arquitectura (FAUP) com uma última aula sobre “A viagem”.

“A viagem é fundamental para a formação de um arquitecto, para a formação da mentalidade e para a integração de cada um de nós nesta aldeia global”, referiu em declarações ao JPN. Para Correia Fernandes, “hoje é mais do que necessário” ter a noção de que “viajar é uma forma de compreender o mundo” que é “muito grande e muito diverso”. “Não há arquitectos que não tenham noção do contexto social em que exercem a sua profissão”, arfimou.

Carreira:

Manuel Correia Fernandes foi presidente do Conselho Nacional de Disciplina da Ordem dos Arquitectos. Já foi galardoado com distinções como o Prémio Nacional da Arquitectura da Associação dos Arquitectos Portugueses e o Prémio Extraordinário Fernando Belaunde Terry – IV Bienal Ibero-Americana de Arquitectura. Em 2005 foi condecorado com o Grau de Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública. Actualmente, é vereador da Câmara Municipal do Porto pelo PS e esteve ligado a projectos de reabilitação e revitalização da Baixa da cidade.

Arquitecto e professor, Correia Fernandes afirma que sempre “conjugou muito bem” os dois lados da sua carreira. “Eu entendo que é essencial para se ensinar arquitectura que se tenha uma prática de vida. Foi com naturalidade que representei todas as personagens de que vesti a pele durante estes 40 anos.”

A leccionar pela última vez na FAUP, o arquitecto afirma que o “essencial” de um professor “é ser capaz de suscitar nos estudantes muitas dúvidas” porque, na sua opinião, “ensinar é saber fazer perguntas”. De acordo com Correia Fernandes, é importante “passar para dentro da escola a experiência que se tem fora dos muros” da mesma.

Enquanto professor afirma que a sua grande preocupação foi passar aos alunos a noção de que “a arquitectura é uma actividade social” com uma “missão insubstituível”: “materializar os anseios e desejos das sociedades”. E cita o arquitecto Sullivan para esclarecer a ideia – “os arquitectos são aqueles em quem a sociedade depositou o poder de construir”. Na opinião de Correia Fernandes a actividade é desenvolvida “ao serviço de quem lhes conferiu esse poder” e não “autonomamente”.

Da experiência educativa faz um balanço “muito bom”. “Faria as mesmas coisas se voltasse a estar nas mesmas circunstâncias”, referiu. Para os futuros arquitectos deixa alguns conselhos, “ter atenção ao mundo que nos rodeia” e “ter a plena consciência de que estamos a acrescentar algo aquilo que antes existia, mas era carente dessa coisa que estamos a acrescentar agora”. Isto porque, para Correia Fernandes, “a arquitectura só se consegue quando se tem plena consciência do que se faz”.