À semelhança do que se via há dois anos (quando os Muse subiram ao palco para uma actuação de 40 minutos e conseguiram, mesmo assim, esgotar os bilhetes para a Cidade do Rock), para onde quer que se olhe, há sempre pelo menos uma pessoa com uma t-shirt da banda britânica.

No Palco Mundo, já se adivinha casa cheia para receber as bandas britânicas e, em certa medida, as portuguesas. Depois do cancelamento de Sum 41, a banda de punk rock portuguesa Fonzie teve a seu cargo a tarefa de inaugurar a terceira noite no palco principal. A aquisição de última hora do Rock in Rio soube entreter uma plateia maioritariamente jovem. Quando questionaram o público acerca da banda que vinham todos ver, o grito que se ouviu espelhou a unanimidade: Muse.

Seguir-se-iam os veteranos Xutos & Pontapés. Apesar de nunca terem faltado a uma edição portuguesa do festival, a banda ainda consegue “arrastar” até ao Rock in Rio muitos fãs. Mesmo com o “peso” de trinta e um anos de carreira (ou talvez por causa disso), os Xutos e Pontapés continuam a saber dar espectáculo. “É um gosto estar aqui com vocês a cantar estas coisas”, refere o vocalista.

Se as camisolas de Muse abundam pelo recinto, as t-shirts de Xutos não lhes ficam muito atrás. A música escolhida pela banda portuguesa para abrir mais um espectáculo na Cidade do Rock acabaria por ser “Contentores”, para gáudio dos presentes. Música atrás de música, single atrás de single, memória atrás de memória, os Xutos & Pontapés vão “despejando” êxitos e o público acompanha a plenos pulmões (e, até, com algumas tentativas de um moche mais juvenil). A exibição de luxo acabaria com “Casinha”, a que se seguiria uma certa debandada geral. Aproveitando o final do concerto dos portugueses, o público dividir-se-ia entre a vontade de ir recarregar baterias aos comes e bebes ou tentar “furar” para estar mais perto do palco aquando do concerto mais esperado.

Os “novatos” Snow Patrol

Mesmo assim, muitos ficaram para assistir a Snow Patrol ao cair da noite, banda a quem caberia a tarefa (ingrata?) de entreter o público antes do grande final. Os Snow Patrol subiriam ao palco por volta das 22h00 e trariam, mais tarde, a portuguesa Rita Redshoes consigo para interpretar um tema, num dos momentos mais especiais da noite. A banda britânica estreou-se nos palcos portugueses com “Open Your Eyes”, um dos seus mais conhecidos singles. Depois de um “Portugal, como estão?” meio arranhado, o vocalista saltou para o público logo na segunda música (apropriadamente denominada “Take Back the City”) e infiltrou-se no meio dos fotógrafos, apanhados desprevenidos pelo irreverente vocalista. Uma actuação pontuada até por alguns palavrões que se seguiram a erros técnicos do vocalista. “Lixei esta música…desculpem lá”, disse um par de vezes o bem disposto Gary Lightbody.

Mais tarde, a esperada “Run” seria cantada por toda a gente, mas sem antes o vocalista explicar a origem da música e agradecer a presença do público. “Do meu quarto em Glasgow para 60 mil pessoas em Portugal”, gaba-se. Antes de sair, Gary ainda teve tempo de deixar um conselho: “Os Muse são a melhor banda do Mundo. Aproveitem”.

A catarse de Muse

E o público parece ter seguido o conselho à letra, pelo menos a julgar pelo clima que se vivia ontem, quinta-feira, na Bela Vista. À meia-noite e ao som do fogo-de-artifício que pintava o céu por cima do palco, os Muse entram em apoteose com “MK Ultra” (e muito, muito brilho).

Naquele que seria o concerto mais longo da edição 2010 (até agora), a banda britânica faria o gosto a todos os presentes, com novos êxitos, músicas de culto entre os fãs mais aguerridos e até single novo. Mostrando toda a sua perícia musical e todos os seus dotes de improviso, Matt Bellamy soube conduzir o público por entre um interlúdio mais ou menos improvisado, deixando o público “às cegas” a tentar adivinhar que música seria tocada a seguir.

Apesar da já habitual fraca interacção com o público, Matt Bellamy e companhia acabariam por estar em sintonia perfeita com a multidão em temas como Uprising, Plug In Baby, Supermassive Blackhole,Undisclosed Desires, Resistance ou Time Is Running Out. Só o encore teve três músicas e terminou em grande com Knights of Cydonia e muito fumo.

Seguramente, o melhor concerto do Rock in Rio 2010. 83 mil almas concordam. Sandra Santos, 21 anos, é uma delas.Veio de Ovar para ver Muse. Não se arrepende. “Foi muito bom, superou todas as minhas expectativas”, exclama, sem deixar, no entanto, de dizer que “podiam ter tocado mais uma ou duas músicas”. Mónica Teixeira, 24 anos, veio de Matosinhos também para ver Muse, mas com alguma curiosidade de ver ao vivo Snow Patrol. Comparando os dois concertos, Mónica entende que “Muse foi melhor”, “mas Snow Patrol também foi muito porreiro”, apesar de estarem “muito calminhos”.

Calmo ficaria, sim, o recinto após a apoteose que ocorreu em palco uns minutos antes.