A Cidade do Rock foi decorada a preceito para receber as milhares de crianças esperadas este sábado. O número exacto não se sabe, mas diz a organização que, entre pais e filhos, estavam 88 mil pessoas na Bela Vista, valor que bate em cinco mil o registado na quinta-feira.

As portas abriram excepcionalmente antes das 16h00 e os concertos também foram, regra geral, “adiantados” pelo menos uma hora. Pela rua de acesso à entrada principal da Cidade do Rock, milhares de crianças, acompanhadas dos respectivos adultos, corriam desenfreadamente para o palco, para ver Hannah Montana mais de perto. Muitas estavam lá antes das cinco da manhã, na esperança de concretizar esse sonho e de terem a melhor noite das suas jovens vidas.

Sunset à margem da festa da “pequenada”

O Palco Sunset nunca esteve tão à margem do que se passava no Rock in Rio como sábado. Enquanto que milhares de famílias esperavam por Miley Cyrus e outros artistas pensados para os mais novos, no Sunset desfilavam artistas que poucos apreciariam, pois o dia seria dedicado a agradar aos filhos. Lúcia Moniz, que já subira ao palco secundário no sábado, apesar do esforço e da simpatia, pouco animou os presentes na sua actuação com Mr. Lizard. De seguida, Tiago Bettencourt/Mantha e Tiê tiveram igual sorte. A tarde/noite passada no Sunset só animaria com Martinho da Vila e Luís Represas, a cantar ao sabor do pôr-do-sol, numa actuação que cheira a praias brasileiras e recantos portugueses. “Mulheres”, de Martinho, e “Feiticeira”, de Represas, vão certamente ficar na cabeça dos adultos que encontraram no Sunset um escape da Cidade, momentaneamente rebaptizada de Teen Pop.

Do lado de cá do recinto, por entre as actuações de rua pensadas para entreter os mais pequenos e a distribuição de brindes promocionais, eram oferecidos 20 mil narizes vermelhos de palhaço, para uma actuação especial que aconteceria às 18h30 no Palco Mundo.

Mas, antes, subiriam ao palco principal os DZR’T, recentemente reunidos para delírio dos adolescentes (que foram, curiosamente, os mais velhos de entre os habitantes provisórios da Cidade do Rock, se descontarmos os pais). Numa actuação pouco própria para a maioria das crianças que se encontrava a assistir, o grupo português mostrou os seus atributos musicais (e corporais) em músicas como “Para Mim Tanto me Faz” ou “Verão Azul”.

Após o concerto, Angélico continuaria em palco para apresentar um número pouco habitual neste tipo de certames. Os Doutores Palhaços da Operação Nariz Vermelho, que contacta diariamente com crianças dos serviços pediátricos de diversos hospitais no país, subiram ao palco para dar espectáculo. Pelo recinto, os milhares de narizes de palhaço distribuídos faziam-se notar.

Macdonald destoa, Cyrus entoa

Depois do interregno na música, foi a vez de Amy Macdonald tentar, com algum esforço, inserir-se no contexto infanto-juvenil do penúltimo dia de Rock in Rio 2010. Com uma voz melodiosa e muito bons músicos a acompanhar, Amy Macdonald só não fez um brilharete porque a audiência não era a mais indicada. Apesar disso, a monotonia foi rainha na actuação da escocesa, usada por muitas famílias para ir à “caça” de brindes ou aproveitar as diversões. Mesmo assim, podia ler-se na primeira fila um cartaz, isolado entre tantos outros a glorificar Hannah Montana/Miley Cyrus, onde se agradecia o regresso de Amy a Portugal. “Ordinary Life” e “Poison Prince” (dedicada a Pete Doherty) serviram de arranque a um concerto que teve em “This is The Life”, o single de maior sucesso na Europa, o desfecho.

Os senhores que se seguiram vieram directamente de terras de Sua Majestade para fazer as delícias das adolescentes presentes. Em estreia nacional, milhares de fãs aplaudiram cada canção dos Mcfly e vibraram com músicas como “Lies”, “Falling in Love” ou até mesmo com a versão de “Fight for Your Right (To Party)”, dos Beastie Boys. Apesar da clara associação ao fenómeno das boysband, os Mcfly até conseguiram fazer alguns pais mais rockeiros bater o pé, com um uso limitado, mas eficiente das guitarras que pavoneavam em palco.

Mas a noite, essa era indiscutivelmente de Miley Cyrus, estrela maior da constelação Disney. De aspecto Disney tinha, no entanto, muito pouco a jovem cantora/actriz. A julgar pela roupa que envergava, a rapariga de 17 anos terá, talvez, o mesmo destino de outras tantas estrelas da Disney (vêm à memória Britney Spears, Justin Timberlake ou Christina Aguilera), “desfiguradas” por um sensualismo forçado ainda antes de atingirem a maioridade. O body que servia de “outfit” e deixava muito pouco à imaginação, não se coadunava com as milhares de crianças pequenas que, (im)pacientemente, esperavam por Miley desde, no melhor dos casos, as 15h00.

Terminados os olhares de choque de alguns pais frente aos ecrãs espalhados pela Bela Vista, o concerto prosseguiria com um desfiar de agradecimentos (por parte de Miley) ao fãs portugueses, que cantavam em uníssono todas as suas músicas. “Seven Things”, “Fly on the Wall” ou “Can’t Be Tamed” foram naturais causadores de gritos mais estridentes.

O concerto terminaria iluminado pelo fogo-de-artifício, que este ano pontuou todos os dias do evento. Rapidamente, o recinto ficaria vazio, com as crianças e respectivos pais a saírem apressados rumo a casa e a um descanso merecido. A Cidade do Rock foi dormir mais cedo esta noite.