“Há que estabelecer uma diferença entre aquilo que são as aplicações concretas e aquilo que são as expectativas de aplicação” das células estaminais, afirma, de antemão, Helena Alves, directora do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN). Até ao momento, a “utilização conhecida, garantida e experimentada” das células estaminais é o transplante, nomeadamente o de medula óssea.

No entanto, no caso de se tratar, por exemplo, de uma leucemia, o dador não pode recorrer às suas próprias células, dado que estas já estão “perturbadas por uma alteração genética que faz parte dessa doença” desde o nascimento. “Por isso as suas células não lhe vão ser úteis para transplante”, explica a directora.

Daí que a “probabilidade de uma pessoa ter as células estaminais guardadas e elas lhe servirem é baixa”. Para além de que, se já estiverem “doentes”, as células não vão servir para mais nenhum paciente que precise. Como tal, Helena Alves afirma que “há uma generalização indevida daquilo que são as expectativas de utilização”, sobretudo “em doenças em que se estão a fazer experiências”, como é o caso de áreas como a medicina regenerativa.

Células estaminais só duram 20 anos preservadas

Para além das dúvidas relativamente aos campos de utilização há ainda a problemática do tempo de duração das células. “Há um prazo de 20 anos que é conhecido, mas não sabemos quantas dessas células vão ficar viáveis até ao fim”, explica a directora. Isto porque “todos os anos há perda de viabilidade celular”. “Quantos mais anos, menor a viabilidade das células.”

De acordo com a directora, é então “abusivo pensar ou difundir a ideia de que são as células estaminais do cordão umbilical de uma pessoa que o vão tratar daqui a 50 ou 70 anos”. Ainda com várias dúvidas quanto à aplicação e à preservação das células, a comunidade científica tem desenvolvido estudos no sentido de encontrar outras formas de utilização que passem, sobretudo, por conseguir “com as células estaminais chegar a um final de uma célula em particular”.

“E aí está o grande problema actual: ainda não sabemos orientar as células no sentido de elas se diferenciarem naquilo que nos precisamos”, explica Helena Alves, para quem este problema pode ser também uma “esperança”. “Quando isso for possível os bancos públicos vão ter células estaminais suficientes para tratar os doentes que forem precisos tratar”, refere não deixando de salientar que esta hipótese é para já um “sonho”.