Em Portugal, a “joalharia já teve melhores dias”, “já esteve ao nível das melhores do Mundo”. Hoje, a ouriversaria portuguesa é um “pequeno sector”, que “não apostou no design, na modificação, no novo” e, por isso, “estagnou”. É assim que Bruno da Rocha, o criador luso que inaugurou a sua primeira loja no estrangeiro em Novembro do ano passado, em Madrid, vê o estado da joalharia e da ourivesaria em Portugal.

Bruno defende que é difícil abrir empresas na área, pois “exigem dez anos de experiência no sector”. “A joalharia está a ser ‘castrada'”, lamenta. “As empresas passam de pais para filhos e fazem jóias como se fossem porcas e parafusos. Não têm gosto e sensibilidade para a arte, salvo raras excepções”, desabafa.

Bruno não tem loja própria em Portugal, mas existem quatro ourivesarias no Porto que vendem a marca. Em Lisboa são “sete ou oito” e conta ter representação em praticamente todas as cidades do país. Madrid surgiu-lhe por acaso. “Eu pensei em abrir em Barcelona, mas o projecto mostrou-se incomportável a nível de custos”, explica. “Depois lembrei-me de Madrid. É mesmo ao lado e já conheço a cidade desde os meus vinte anos. É a minha segunda cidade”, salienta.

A ideia de montar uma loja em Madrid apareceu com a vontade de ter um estabelecimento só com o seu trabalho. Além do mais, o artista defende que “é uma maneira de mostrar no estrangeiro o que se faz em Portugal”. “Nós somos bons naquilo que fazemos e podemos ter sucesso”, acredita. Apesar de entender que a joalharia não atravessa os melhores dias em Portugal, diz estar “confiante” relativamente ao negócio na capital espanhola.

Trabalha com prata e os preços são “médios”

Os preços das suas criações “são médios, não são exageradamente altos”, diz o criador. Entre 18 e 700 euros podem encontrar-se alfinetes, anéis, brincos, pulseiras, colares e gargantilhas. “O valor da matéria-prima é alto” e “as pedras são escolhidas a dedo”. “São boas pedras, cristais Swarovski“, justifica-se. “Os preços também não são altos, porque eu não quero exclusividades”, explica.

Em Portugal, os clientes procuram essencialmente anéis e brincos. Em Madrid, os alfinetes foram “um fenómeno”. “As clientes adoram, acham o máximo. É um conceito novo. São jóias que elas nunca viram. E em Madrid não há nada igual”, conta. Precisamente por isso, Bruno sabe que correu um risco, um “risco que está a correr bem”.

A prata é o seu material predilecto. Dá-lhe “largas à imaginação”. ” A prata é mais diversificada. Permite-me atingir cores e tonalidades que o ouro não consegue”, esclarece. O desenhador produz duas colecções anuais, sempre com duas ou três peças mais extravagantes. E o ouro, segundo o joalheiro, não lhe possibilitaria muita extravagância. “Era incomportável financeiramente”, garante. Por outro lado, “os clientes acabam por ser praticamente os mesmos, porque gostam do estilo e procuram. Mas querem sempre coisas novas.”

Numa outra entrevista, dizia que era preciso ter “organização, prudência e criatividade”. Questionado se essas seriam as chaves do seu sucesso, responde com confiança que “sim, sem dúvida”. A organização é “fundamental, quando se atinge um certo patamar e um certo volume de negócios”, a prudência também, porque “não se pode dar um passo maior do que as pernas” e a criatividade “é o que rege tudo isto”. “Eu podia ter tudo organizado, ser uma pessoa extremamente prudente, mas se não tivesse a parte criativa, não ia a lado nenhum”, remata.

O criador já viu a sua obra incorporada em várias exposições de pintura e joalharia em Portugal e no estrangeiro. Actualmente, tem uma exposição permanente na capital finlandesa, renovada de seis em seis meses.