“A arte nasce em cada pessoa”, é “um impulso”, “está interiorizada”, “não é uma coisa que se procura, nem que se aprenda”, começa Bruno. “Quando era pequeno”, recorda, “passava horas a desenhar enquanto os outros miúdos estavam, lá fora, a jogar à bola.” Mas era de desenhar que Bruno gostava e era aquilo que o fazia feliz. E continua a ser o que o faz feliz agora.

Quando decidiu optar por uma profissão, a joalharia foi a que lhe pareceu mais viável. Percebeu que podia fazer do gosto e do jeito um ofício.

Foi ao lado da Louis Vuitton, Jimmy Choo, Armand Basi e Diane von Furstenberg que surgiu, na capital espanhola, em Novembro do ano passado, a loja Bruno da Rocha. O espaço é do criador português com o mesmo nome, que trabalha no sector há quase vinte anos. O joalheiro procura em Madrid, no número 97 da rua Claudio Coello, cumprir um sonho de criança: a internacionalização.

A ideia nasceu com ele. Só lhe faltava o momento oportuno. “Eu disse: antes dos 40 anos tenho de fazer a loucura da minha vida. Depois dos 40, temos os pés assentes na terra, começa-se a ter muitos medos.”

O artista, que agora vive entre o Porto e Madrid, defende que “a arte não se aprende”, apesar de se poder “aprender as técnicas”. “Há regras para se construir uma jóia, como há regras para construir um prédio, mas a arte nasce contigo”, comenta.

Estudos, prémios e exposições

Bruno da Rocha estudou na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis durante um ano, no curso de cinzelagem. Depois, passou para a área da joalharia, mas não foi aí que terminou os estudos. No ano seguinte, acabou por matricular-se no Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria (CINDOR), em Gondormar, onde concluiu um curso de três anos na Área de Joalharia e Cravação. Em 1991 obteve o 1.º lugar da Área de Joalharia, no Concurso Nacional de Formação Profissional de Jovens. O prémio foi-lhe atribuído em Setúbal e nesse mesmo ano voou para Amesterdão, na Holanda, onde participou no Concurso Internacional IBW’91.

Define-se como uma pessoa urbana. “Era incapaz de viver no campo. Era incapaz de viver isolado. Eu gosto de cidades, da confusão. Raramente saio para o isolamento”, explica Bruno. E garante que é na urbe que encontra os seus recantos e a inspiração de que necessita. “Sou constantemente bombardeado com informação, com ideias, e o Porto é uma cidade muito inspiradora, como é Barcelona, Paris e Madrid”.

“São pequenas esculturas”

Bruno gosta de viajar. Adora expor lá fora, principalmente porque o estimula a produzir mais. “Ajuda-me a reforçar o gosto que eu tenho pelo meu país”. Apesar de considerar que o mercado nacional é “pequeno”, entende que “as mulheres portuguesas, a nível de gosto e sensibilidade para arte estão, de facto, muito à frente”.

O público-alvo de Bruno é, precisamente, o sexo feminino. Mas o artista prefere dizer que o público do seu trabalho define-se a si próprio. “As minhas jóias não são muito contemporâneas, não têm linhas frias. São baseadas no antigo, tem um toque de arte nova, um toque orgânico. Isso vai atingir um tipo de mulher acima dos trinta anos e com uma posição social alta”, atalha o desenhador. “E geralmente são sempre pessoas ligadas às artes”, conclui.

A partir de gestos discretos, o criador descreve o seu trabalho. “São jóias urbanas, com conceitos orgânicos. São pequenas esculturas que se usam.”

Para o futuro, Bruno pondera apostar noutros mercados, até porque gosta de viajar. “Sempre gostei muito de viajar. Todo o dinheiro que eu conseguia, nos meus vinte anos, com a pintura que fazia, era para passear.” O criador declara que nunca pensou demasiado no futuro. Mas duma coisa sempre teve a certeza: “queria dar a conhecer o meu trabalho”.

“Surgiu agora uma oportunidade muito boa para Shanghai. A Ásia é um mercado emergente, assim como é Angola e eles adoraram o nosso trabalho”, explica.