Em “O Dia de Todos os Pescadores”, co-produção da ASSéDIO e do Teatro Nacional São João, tudo se passa num quarto de hospital. No texto inédito de Francisco Luís Parreira é dia de eleições. A cidade está envolta num nevoeiro que não convida a votar. Na cama, Edmundo (João Cardoso) observa o mundo. Cita Dante, cita Homero. Critica a classe política, lança gracejos para puxar à gargalhada. “O verdadeiro perigo é para quem anda lá fora”, conclui.

Em cena:

O Dia de Todos os Pescadores” está em cena até 31 de Julho, no Teatro Carlos Alberto. A estreia é hoje, quinta-feira. Paralelamente, realiza-se, a 24 de Julho, às 16h00, a leitura encenada de “O Terceiro Recordado”, também de Francisco Luís Parreira.

É um professor universitário, em suspenso, à espera de um diagnóstico para se libertar. Alguém que “destila o seu veneno acerca de tudo”, considera o actor e também encenador da peça. Recebe a visita do médico (Jorge Mota), que não dá respostas. Conversa com a enfermeira (Micaela Cardoso), que nutre por tão “controverso” paciente um “fascínio” único. “Ele aborrece-a e ela gosta de tudo o que foge à norma”, revela a actriz.

Chega Clara (Rosa Quiroga), a mulher que Edmundo censura por roer as unhas quando quer dizer alguma coisa. E um último visitante, o Visitador (Pedro Frias), um “homem que vive no hospital, maluco ou não, que pode não estar a 100% na realidade”, descreve o próprio actor.

Num texto que surgiu de uma grande proximidade com o autor – foi sendo escrito à medida que se foi ensaiando – há um elemento central: os pecadores. Uma “brincadeira, uma provocação” para “este país de pescadores”, refere Quiroga. E de pecadores também. O próprio encenador o confirma, num dos textos de apresentação: [A peça propõe-se a] “remediar a omissão do calendário canónico, que não prevê um dia consagrado à encomenda das almas dos pecadores.”