O Tiago Barbosa Ribeiro já focou que um dos problemas da cidade do Porto é a falta de emprego, inclusive para jovens. Será que uma maior proximidade das empresas com a Universidade do Porto (UP) pode ser uma solução para isso?

Parece-me claramente decisivo. A Universidade do Porto é um dos activos, para não dizer o activo, mais importantes que a cidade tem. A UP lidera os acessos ao ensino superior no país, é a principal universidade em número de alunos, é uma universidade profundamente procurada por alunos estrangeiros. Temos aqui cursos de excêlencia, temos faculdades de excelência e temos centros de investigação de excelência nas mais diferentes áreas. Não temos tido é a capacidade de aproveitar os recursos humanos qualificados que são desenvolvidos nestas faculdades e fixá-los na cidade do Porto.

A Juventude Socialista acompanhou o Partido Socialista numa proposta que nos parece altamente favorável, que é criar, na freguesia de Campanhã, na zona oriental, uma incubadora de empresas, reconvertendo o antigo matadouro municipal. Seria possível instalar dezenas de empresas com um potencial criador de emprego enorme e permitiria, não só dinamizar emprego numa zona desfavorecida da cidade, como também aproveitar todo o capital crítico que sai da cidade do Porto todos os anos e que não encontra espaço, nem mercado de trabalho

Aqui a Câmara Municipal do Porto (CMP) tem de ter um papel activo. Tem de conseguir juntar os diferentes actores políticos e empresariais e tem de conseguir juntar a UP e outras instituições de ensino, criando condições para que esse emprego seja criado na cidade, fornecendo isenções fiscais e camarárias, fornecendo terrenos. Criar as condições necessárias para criar esse emprego na cidade e fixar os jovens, tendo também eventualmente um efeito positivo sobre a habitação na cidade.

Aparentememente, a UP está muito aberta a essa articulação. No discurso da tomada de posse, o reitor Marques do Santos salientou que um dos objectivos do seu mandato é “incentivar a cooperação entre a UP e a as entidades locais e regionais da Área Metropolitana do Porto”. É então a Câmara do Porto que está a fechar portas?

Eu não diria que a Câmara está a fechar portas. A Câmara do Porto esta é desatenta, tal como em relação a outros problemas da cidade. Já estamos no terceiro mandato desta coligação, já não há desculpas para a ausência de políticas em todas estas áreas. De facto, a UP já há vários anos que procura este desenvolvimento, que procura criar estas condições e tem vindo a encontrá-las noutros concelhos: em Gaia, na Maia, em Matosinhos. Tem vindo a deslocalizar vários dos seus pólos, do seu capital crítico, para esses concelhos.

“Não existe um parque tecnológico, digno desse nome, dentro da cidade”

Não se compreende que a cidade do Porto, que o concelho do Porto, concelho-sede da UP, capital do distrito, segunda autarquia do país, não tenha essa capacidade. Aí a CMP, em articulação com outras instituições, como é o caso da CCDR [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional], [organismos] que têm aqui a sua sede e têm capacidade de influência, de decisão e de articulação com a UP, necessita de ser um actor político a puxar por este tipo de articulação.

Uma das apostas futuras da UP é o incentivo à investigação científica. Como é que podemos fixar muitos destes investigadores cá?

Eu creio que só os podemos fixar se houver emprego qualificado nas mais diferentes áreas dentro da cidade. E isso só se faz, uma vez mais, procurando articular a investigação académica dentro da UP, com os seus laboratórios e centros de excelência, com a criação de condições de empregabilidade desses investigadores na cidade. Isso processa-se muito antes desses investigadores serem investigadores porque muitos deles começaram por ser estudantes de Erasmus e apaixonaram-se pela cidade. Não encontram capacidades de fixação a nível do emprego e ao nível da aplicação de ideias inovadoras. Muitas delas surgem dentro dos gabinetes de investigação da UP, em empresas… Não existe um parque tecnológico, digno desse nome, dentro da cidade do Porto, que os consiga fixar.

Marques dos Santos é da opinião que devem ser as instituições do ensino superior a garantir a sustentabilidade financeira. Este papel deve caber só às universidades ou o Governo deve ter um papel preponderante?

Entendo que todos os actores devem estar envolvidos na gestão e no próprio financiamento das universidades como temos visto nos últimos anos. Parece-me muito positivo o desenvolvimento que tem vindo a ser feito pela UP, no sentido de procurar receitas próprias, criar parcerias, criar redes universitárias, criar redes empresariais. Claro que não se pode esquecer o papel fundamental do Estado na promoção e na garantia de acesso ao ensino superior.

“Ninguém deve ficar excluído do acesso ao ensino superior por dificuldades económicas”

Vieram a público recentemente várias notícias que davam conta das dificuldades de muitos estudantes em conseguir pagar as propinas. Tem alguma solução? São as universidades que devem tentar custear estes custos?

As próprias universidades custearem os cursos, ou os custos, será muito difícil. No caso concreto das propinas, elas irão baixar pela primeira vez em cinco anos, fruto das condições actualmente em vigor para a fixação dos tectos máximos. Existe a acção social escolar, que tem vindo a ser desenvolvida, e que é aplicável a uma larga franja da população universitária.

Existem bolsas de acção social escolar, para além da garantia de acesso a cantinas e de alojamento para estudantes deslocados. Mas, se mesmo assim, é dificil aos estudantes financiar o seu curso… Pois bem, enfim… Eu creio que ninguém deve ficar excluído do acesso ao ensino superior por dificuldades económicas.

O que acontece é que tambem o acesso às bolsas de acção social está mais complicado..

Eu não diria que está mais complicado. Neste momento, as bolsas de acção social escolar – eu pude acompanhar essa discussão no Parlamento – têm neste momento um conjunto de critérios que, à semelhança de todas as outras prestações sociais, estão neste momento a procurar ser mais criteriosas. Isso não significa que quem não pode estudar por incapacidade financeira fique fora dessa bolsa. Ou seja, os critérios sao mais apurados, procura-se encontrar condições para que, exactamente, quem mais precisa tenha acesso a essas bolsas. Parece-me que procurar uma atribuição mais criteriosa dessas bolsas nao vai excluir ninguém, a não ser, eventualmente, alguém que não necessite dessa bolsa.