O papel rompe-se, gasta-se, suja-se. Já a celulose, principal componente do papel, pode experimentar vários tipos de deterioração, por acção de determinados agentes de origem natural ou artificial. O problema começa a partir do momento em que os materiais utilizados para a sua conservação são mais resistentes que o próprio suporte.
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O preocupante na conservação do papel, segundo especialistas, é que este processo de deterioração é silencioso e espalha-se por todas as bibliotecas do mundo. Slow fire é o termo anglosaxónico utilizado para explicar a combustão do papel, que se traduz numa oxidação rápida da celulose.
Uma vida dedicada ao papel
A especialista em papel Mafalda Veleda, que estagiou no Horniman Museum e aí aprofundou os seus conhecimentos em Etnografia, recorda o que aprendeu no Reino Unido e aplicou em Portugal. A morsa gigante, as máscaras mexicanas e as colecções de espécimens são alguns dos destaques dessa estadia de aprendizagem.
Terminada a experiência além-fronteiras, Mafalda Veleda repete-a e utiliza-a em Portugal, onde está desde 2000. Dos dez anos dedicados à área em Portugal, aprendeu que o país tem um vasto legado etnográfico desde a Guerra Colonial, tal como França e Reino Unido, países que valorizam a área.
Foi no Centro Português de Fotografia (CPF), onde esteve durante três anos, que trabalhou o espólio fotográfico de Domingos Alvão, conforme conta. Nesse contexto, acabou por tratar um modelo de gesso de um elefante – a peça inconfundível da exposição da Guerra Colonial – no Palácio de Cristal em 1934, que recorda com uma intensa gargalhada. Fala da famosa Rosinha que fez capa, enquanto vai mostrando a publicação da exposição.
Animais que adoram papel
Se pensava que o maior inimigo do papel poderia ser o próprio tempo, desengane-se. Os componentes do papel são factor de atracção a muitos animais, entre insectos e roedores, motivo que já levou a medidas extremas de conservação ao longo dos tempos. Um exemplo disso é o “peixe-prata”. Atrás do atraente nome esconde-se um insecto menos aprazível, cuja preferência recai sobre o papel de parede, como conta Mafalda.
Com um demarcado dinamismo, Mafalda explica que, em Portugal, há uma “certa tendência para o proteccionismo” na área da restauração. No Reino Unido, existe uma “espécie” de Ordem de conservadores e exames de profissionalização. “Nós somos pequenos e temos de ser diferentes, não ter medo do ridículo. As empresas de conservação e restauro não têm coragem para o empreendedorismo”, desabafa sobre a questão, que a preocupa.
Na clínica da especialista, deparam-se com outro problema: a dependência de imenso material que só conseguem obter através de importação. A especialista recorda, mesmo assim, a forte indústria papeleira que existia no nosso país.
Na área da conservação do papel, diz existir um preconceito e falta de conhecimento à volta dos processos de conservação. A digitalização, assegura apenas a continuidade da existência (de uma reprodução) do documento, mas esta opção, entende, pode promover o “esquecimento” do objecto original e do seu valor artístico real.