Não é, certamente, novidade que o consumo de jornais online aumentou nos EUA. Que os hábitos dos portugueses sigam os mesmos passos, talvez também não seja. As consequências desse aumento têm aquecido debates nas mais variadas áreas, com especial destaque para os órgãos de comunicação social (OCS) tradicionais, principais visados por esta mudança no consumo de informação.
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Seja por ser o elemento afectado mais directamente, seja por precisar de novas abordagens de sobrevivência, o jornal impresso tem, para alguns, “os dias condenados”, “por mais balões de oxigénio que utilize”. O jornalista e professor universitário António Granado considera que o consumo dos jornais online pela população portuguesa, na evolução da Web 2.0, levanta questões profundas. Defende, ainda, que o jornal que melhor se adaptar à nova realidade, mais hipóteses de sobrevivência terá.
Na opinião do jornalista, o estudo da Pew Research Center que desencadeou a notícia, “para além de constatar que a população americana consome, brutalmente, jornais online”, revela ainda que “o motivo n.º 1 é a necessidade dos leitores terem motivos de conversa com amigos”, estando o segundo relacionado com “questões de cidadania”. As pessoas consomem notícias na Internet “para estarem informadas”, pelo que a aposta no jornalismo online é importante. “Os media, infelizmente, preferem adoptar a estratégia contrária”, lamenta.
“Já não existem leitores fiéis”
Com a mudança que o digital introduziu na sociedade, um importante factor de sobrevivência dos jornais impressos deixou de ser tomado como certo. Para Granado, “já não existem leitores fiéis”, mas antes pessoas que continuam a ler o seu jornal de eleição e “cada vez mais aderem aos media sociais”. Mesmo assim, diz o jornalista, a maioria do público dos OCS online não substitui o público do impresso, pois “um jornal que vende 30 mil exemplares por dia” e “atinge 180 mil leitores online”, “nunca venderia 180 mil exemplares” em papel. “É ridículo pensar que a Internet rouba leitores. Essa canibalização não faz sentido”, remata.
Já Alice Duarte, antropóloga e investigadora docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), acredita que a crise económica actual “impede o acto de compra de um jornal diário”, acto esse substituído, “possivelmente”, pelo consumo de “mais semanários”. A investigadora considera o consumo de jornais online importante para a modernização da sociedade portuguesa, mas realça que “falta saber se esses indicadores” referem públicos novos ou “se houve uma migração de públicos dos meios tradicionais para o online.”
A investigadora conclui, num estudo que desenvolveu sobre “Experiências de Consumo” da classe média, que “as pessoas recorrem a shoppings e utilizam os jornais nas zonas de restauração/alimentação.” Quando questionada sobre a taxa de iliteracia e a possibilidade do aumento de jornais na Internet provocar um eventual decréscimo nos hábitos de leitura, a docente da FLUP confessa ser uma “questão muito complicada” de abordar, mas admite notar que “os estudantes recorrem cada vez mais aos meios de comunicação online”.
António Granado contraria esta opinião, não acreditando que o aumento de consumo de jornais online provoque um decréscimo na taxa de literacia ou hábitos de leitura. “A geração dos estudantes de jornalismo”, explica, é composta por “pessoas bem informadas”. Quando esse decréscimo acontece, entende, “é porque os órgãos de comunicação social apostam mais nas breaking news (mais fácil, mais rentável) do que em temas que exijam mais investigação”. “Claro que um jornal de qualidade precisa de um número mínimo de pessoas para o fazer, se os grupos media despedem metade da redacção, não podem esperar que haja boa informação”, finaliza.
Mais tempo em sites de informação
Contudo, os Indicadores Sociais de 2008 do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam, no Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias, um ligeiro decréscimo nas percentagens. Nos objectivos de utilização da Internet pelos indivíduos dos 16 aos 74 anos, na categoria de “ler/download de jornais/revistas online”, as estatísticas mostram uma diminuição de 51,3% (2005) para 48,2% (2008), no primeiro trimestre do período referido. Já um estudo do grupo Havas Media sobre hábitos de consumo de meios confirma que a Internet continua a “ganhar terreno”, apesar de os portugueses continuarem a preferir a televisão.
Os indicadores revelam as mesmas tendências comparativamente ao cenário internacional, mas o contexto português é totalmente diferente. António Granado confirma a ideia. “Apesar das diferenças óbvias, [Portugal] segue a mesma tendência do consumo online. Partimos é de níveis muito mais baixos”, entende.
Ainda assim, no contexto nacional, os portugueses passam mais tempo em sites de informação, conforme comprovam os resultados do estudo Netpanel, da Marktest. Segundo este estudo, em 2008, os jornais desportivos lideravam os OCS consultados.