Numa altura em que alguns profetizam a morte do papel, outros há que questionam a efemeridade dos suportes digitais. Alguns autores salientam que os suportes modernos tendem a servir mais para propagar a informação do que conservá-la.

Do lado dos consumidores, a procura por informação online aumenta em todos os cantos do mundo e Portugal não é excepção. Do lado da indústria, os custos das publicações impressas asfixiam o orçamento pelas baixas receitas e a concorrência dos novos meios dificulta a sobrevivência dos tradicionais que não se conseguem adaptar.

O JPN foi conhecer melhor este meio e compreender qual dos suportes perdurará, segundo a opinião dos vários especialistas consultados.

Pergaminho versus USB

Estando o aparecimento da escrita associado às questões da memória, os diferentes suportes evoluem consoante a própria evolução dos tempos. O suporte digital é sinónimo de uma nova era. O historiador francês Le Goff sugeriu a memória enquanto “Antídoto do Esquecimento”. Partindo desta ideia, consultamos o director do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) para saber a opinião dele sobre as novas formas de armazenamento de informação.

Do outro lado do espectro, o papel. Para melhor compreender a sua função nesta temática, não podíamos ignorar as pessoas que conservam o suporte das memórias do papel: o próprio papel. Protegemo-nos com máscaras e óculos apropriados e mergulhámos no processo de conservação e restauro, no atelier de Mafalda Veleda, especialista da área.

Mas qual dos suportes perdurará no tempo? O conhecido escritor, filósofo e bibliófilo Umberto Eco reconhece a importância dos suportes digitais, mas, num artigo intitulado “Estas memórias electrónicas que se arriscam a desaparecer”, publicado na Courrier International no ano passado, questiona a sua durabilidade. “Se o meu computador ou meu e-book cair do quinto andar, estou matematicamente certo de ter perdido tudo, enquanto que se é o meu livro que cai, na pior das hipóteses, eu vou ter de apanhar as páginas uma a uma”, clarifica.

Um exemplo claro desta mudança de paradigma entre a memória virtual e a memória de papel pode ser encontrado num dos meios que nasceu da segunda opção e tenta sobreviver na primeira. Partindo de um estudo americano revelador de um aumento de consumo de jornais online pela população, tentamos estabelecer um paralelismo com a realidade portuguesa.

Consultamos a antropóloga e investigadora Alice Duarte para nos elucidar sobre as potencialidades da sociedade portuguesa em seguir o exemplo americano. O jornalista e professor universitário António Granado também foi consultado, dando a sua opinião acerca do impacto dos media sociais nos hábitos de leitura dos portugueses. “Já não existem leitores fiéis”, considera o jornalista.

Bibliografia consultada para a reportagem:

– “La conservación y restauración de obras de arte”, Muñoz Viñas, Salvador; Vivancos Ramón, María Victoria; Osca Pons, Julia; González Martínez, Enriqueta (Valencia UPV, 1999)
– “A Obsessão do Fogo”, Eco, Umberto; Carrière, Jean-Claude (Difel, 2009)
– “Ces mémoires électroniques qui risquent de flancher”, Eco, Umberto; (Courrier Internacional, Março 2009)
– “Do bisturi ao laser, oficina de restauro”, Fundação Calouste Gulbenkian, (Lisboa 1995)
– “A Informação Escrita: Do Manuscrito ao Texto Virtual” – Queiroz, Rita de C. R. de (2007)