O encerramento dos cinemas do Shopping Cidade do Porto levou muita gente a pensar que tão cedo não existiria a oportunidade de ir ao cinema, regularmente, no centro da cidade. Apesar da Medeia Filmes continuar com as exibições no Cine-Teatro do Campo Alegre e do Cinema Nun’Álvares também tentar incluir na sua programação filmes fora do circuito comercial, estas alternativas não substituem a oferta a que o Bom Sucesso sempre habituou os portuenses.

O caso do Nun’Álvares:

O cinema Nun’Álvares sempre foi conhecido como um espaço de cinema alternativo. Hoje, o objectivo é tornar-se um “cinema de bairro”, tentando conciliar o “cinema comercial com o independente, que tenha projecção digital”, diz Elias Macovela, gestor do espaço. “Há espaço para todo o tipo de cinema”, garante. Oito meses da reabertura, o Nun’Álvares vai tentar agora colaborar com distribuidoras pequenas, o que pode trazer mais “produtos independentes” ao espaço. “Se tivéssemos mais salas de cinema, poderíamos fazer uma programação alargada. Mas é um erro pensar que o Porto só quer cinema independente.”

No entanto, a julgar pela actividade de certas entidades e associações da cidade, parece não haver grandes razões para preocupações. Pelo menos nos próximos tempos.

Comecemos pelo ciclo “Invicta Filmes”, promovido pelo pelouro do Conhecimento e Coesão Social da Câmara do Porto. Até Dezembro, praticamente todas as semanas, o auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett exibe filmes de Orson Welles, David Griffith e Stanley Kubrick, seleccionados e comentados pelo cineasta Lauro António. (Ver programação)

No início deste mês arrancou mais uma edição do “Cinema Fora do Sítio”, promovido pela autarquia, que concilia a exibição de filmes extremamente recentes (“A Origem”, a 28 de Agosto, e “Sexo e a Cidade 2”, a 14 de Agosto) com a passagem de obras já afastadas das telas (“Invictus”, a 21 de Agosto, e “Pesadelo em Elm Street”, a 4 de Setembro). E sempre no meio da rua. (Ver programação)

Cineclube do Porto e Confederação

Olhamos agora para o renascido Cineclube do Porto. Com uma programação reforçada para o mês de Agosto, a associação está a trabalhar em duas frentes. Às terças, o Breyner 85 recebe uma sessão de curtas-metragens, seleccionadas pelo Cineclube. Esta terça, 10 de Agosto, são projectados, pela primeira vez no espaço, filmes em Super 8 mm. “First Men In The Moon” e as quatro partes de “Jason and the Argonauts” vão ser exibidos, com acompanhamento musical de Calhau. (Ver programação)

Já às quintas-feiras, durante o mês de Agosto, o Cineclube organiza sessões de cinema no Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR). O programa para a noite custa 7,90 euros e inclui jantar, visita guiada ao museu e a exibição de um filme que irá ao encontro do trabalho dos artistas expostos ou até mesmo da própria instituição. (Programação ainda indisponível no site do MNSR e no blogue do Cineclube)

Este reforço da programação não foi, porém, consequência do fecho dos cinemas do Bom Sucesso, garante, ao JPN, José António Cunha, presidente do Cineclube. “De facto, vimos nos últimos tempos um défice de oferta (…) e a nossa experiência revela que o Porto gosta muito de cinema. A adesão está a ser muito melhor do que estávamos à espera.”

Um outro grupo, bem mais recente, a Confederação, está a promover, desde Julho, o ciclo “O Porto, ÒPorto” no auditório do Grupo Musical de Miragaia. Esta sexta, é exibido “Porto da Minha Infância” de Manoel de Oliveira e “2+2” de João Sousa Cardoso.

A selecção está a cargo da companhia de teatro Confederação; O Grupo Musical de Miragaia cede o espaço e está responsável pela organização. A ideia, evidencia Miguel Ramos, responsável pela programação, é que os ciclos de cinema continuem ao longo do ano e adoptem outros temas. “O primeiro foi centrado no Porto e está a ser uma dádiva imensa ao bairro. Há crianças a ver cinema e há um primeiro reconhecimento da cinematografia da infância delas [das pessoas mais velhas do bairro].”

De 17 a 31 de Agosto, decorre o segundo ciclo, denominado “A gosto de Verão”. Desta vez, já com sessões às terças e às sextas. “Vamos correr o país de uma ponta à outra num momento especial para o país: o regresso dos emigrantes.” A seguir à exibição, ficam sempre prometidos dois dedos de conversa.

A Milímetro e o Cineclube da Maia

A Milímetro surgiu entre Março e Abril, fruto da vontade de “um conjunto de amigos que gostam de cinema” e se aperceberam “que o Porto não estava à responder” à sede cinematográfica que tinham, conta Tiago Figueiredo. Arregaçaram as mangas e fundaram a Milímetro, que em Julho organizou um ciclo de documentários no cinema Passos Manuel. Por agora, encontram-se em pausa, mas prometem retomar as sessões em Outubro, também “com regularidade semanal”, já fora dos documentários.

Também em pausa está o Cineclube da Maia. A programação regular regressa em Setembro, garante Marcos Maia, e sempre com uma componente social. “É um evento social. As pessoas só vão ao cinema porque querem ver um determinado filme ou porque há um evento que as faz sair de casa. Não é só ver o filme – é discutir e conviver.”

O JPN tentou, sem sucesso, falar com a Câmara Municipal do Porto a propósito dos dois ciclos que promove.