Há alguma dificuldade em arranjar novos membros para as JSD?

Eu acho que existe a ideia generalizada que os jovens estão afastados da política. É verdade que existe esse afastamento. Existe dos jovens, mas não só dos jovens. São as pessoas em geral, mais ou menos experientes, que estão todas muito desiludidas. Nesse sentido as Juventudes não são diferentes e a JSD não é diferente. Faltam eventualmente alguns valores e de facto é mais complicado hoje encontrar um jovem com grande vontade de participar na política. Mas deixe-me dizer-lhe que participar na política não é só no seio das juventudes partidárias e dos partidos. O que eu acho é que os jovens não estão desmobilizados para a intervenção cívica. Se calhar, não se vêem na forma de organização e na forma como as juventudes estão organizadas.

E não se vêem por culpa deles ou porque as juventudes deveriam passar melhor essa mensagem?

Eu penso que aqui qualquer culpabilização unilateral seria redutora. Por um lado, são os tempos. Por outro lado, são os exemplos vindos de pessoas mais experientes e com outras responsabilidades que nem sempre agradam a quem começa a dar os primeiros passos. Há alguma dificuldade em integrar estruturas que são herméticas, que têm funcionamentos complicados de se entenderem e de se interiorizarem e depois também haverá aguma dificuldade de passar a mensagem que também podem ser causa disso.

Quais são as prioridades da JSD Porto?

Como juventude partidária temos aquelas preocupações clássicas da Juventude, do ensino secundário e do ensino superior – já ligado à política educativa – bem como as questões, naqueles “jotas” já mais velhos, do acesso à habitação, do emprego e também da própria situação familiar. Tirando isso há uma série de questões que dizem respeito à generalidade das pessoas, e aos jovens também, que são as questões ambientais porque, de um modo geral, os jovens têm outra preparação para lidar com elas.

Também a segurança social, que é para onde nós caminhamos, e as questões relacionadas com a economia. De uma forma geral procuramos não nos centrar apenas naquelas questões que são classicamente ditas como questões de juventude. E aí alargamos os nossos horizontes ao discutir a política educativa, ao discutir a questão da organização da saúde, da educação. Tentamos que os nossos elementos cada vez dominem mais e melhor o maior número de matérias.

E uma das formas que têm para fazer isso é organizando a Universidade de Verão que está agora a decorrer. São abertas à generalidade das pessoas ou é só para militantes?

Não, é aberto à generalidade das pessoas. O número de vagas é muito reduzido porque há uma procura mesmo bastante expressiva. Realizam-se uma vez por ano sempre em Castelo de Vide e acaba por ser uma formação fantástica porque, para começar, ao estilo quase de internato, temos actividades desde as 9h00 e à tarde e à noite, os almoços sao temáticos, os jantares têm um orador, há uma preparação da conferência com o orador. Paralelamente a todas estas aulas, em que estamos sempre a avaliar e a ser avaliados, há depois o desenvolvimento de competências pessoais – [aprender] maneiras de nos exprimirmos, formas de conversar e discursar, [combater] aquelas situações mais comuns do que fazer com as mãos e deixar de ter tiques de tamborilar na mesa ou ter a mão no bolso.

“Quem passa pela Universidade de Verão aprende mais do que num ano de vida política”

Propõe-nos uma serie de actividades de desenvoltura pessoal como fazer um vídeo, participar num exercício parlamentar, sendo oposição ou poder, apresentar uma resolução e defendê-la, argumentar e contra-argumentar. Quem passa pela Universidade de Verão se calhar aprende mais do que num ano ou dois.

E costuma captar pessoas novas, de outras áreas politicas?

Está aberta efectivamente à participação de outras pessoas. Agora, até pela forma de divulgar, o que é mais comum é que sejam militantes ou pelo menos simpatizantes.

Nem sempre a actividade dos partidos é transparente e pode-se perder alguma comunicação por aí. No início de Junho vi uma mensagem do Tiago Azevedo Fernandes, moderador do blogue A Baixa do Porto e também militante do PSD, em que ele dizia algo como “é impressionante como princípios básicos da transparência na política são vistos com desconfiança pelas estruturas partidárias”.

Vim a saber depois que tinha sido a propósito de uma moção que ele tinha apresentado na concelhia para colocar online o vídeo das assembleias municipais e que foi derrotada por larga margem. Pelo que sei, foi um dos que votou contra…

Fui.

Porquê?

Porque a Assembleia Municipal tem alguma dignidade a ser preservada. É evidente que não podemos estar propriamente satisfeitos com o número de pessoas que pode assistir à Assembleia. É um número reduzido, mas também posso dizer que, neste mandato, se esteve totalmente completo o número da assistência foi uma vez. Portanto, a questao que é muito badalada, que as pessoas nao têm lugar na Assembleia Municipal, não sei até que ponto não será uma falsa questão. Já não me recordo se chegou a ser esclarecido se seria em directo ou em diferido, mas a verdade é que temos actas da Assembleia Municipal que traduzem…

Mas não são publicadas…

Não são publicadas mas é possível consultá-las. E, de qualquer forma, há aqui alguma imagem a preservar daquilo que são os vereadores e daquilo que são os deputados municipais. O que é conhecido não há nenhum problema que seja difundido de forma mais ampla possível, mas há questões, até de imagem, porque estando em canal aberto qualquer pessoas poderia fazer arquivo. São coisas que podem levantar conflitos.

Mas os deputados da Assembleia da República já sofrem um bocado disso, pegando na sua ideia…

É um facto, é verdade que têm essa exposição. Mas também estamos a falar de um nível muito diferente de exposição e responsabilidade e acho que ainda não estão criadas, definitivamente, as condições para que essa medida pudesse ir avante.

Parece que alguns políticos, ou interventores políticos, têm medo desta perspectiva de transparência porque acham que as pessoas vão interpretar mal alguma da informação que pode ser transmitida. Mas não pode ser uma oportunidade para explicar eventuais dúvidas que possam surgir?

É possivel. É uma faca de dois gumes. Mas o que eu acho é que a mentalidade do cidadão comum pode ainda não estar no ponto em que esta é uma medida com mais vantagens do que desvantagens.

“Quase parece que fazem uma cavalgada contra Rui Rio”

Às vezes fica a ideia de que existe uma grande dificuldade de comunicação entre a CMP e outras entidades. Basta consultar o site oficial da autarquia, em que por vezes são publicados artigos que criticam notícias ou crónicas de jornais nacionais. Como é que o João Paulo encara essa comunicação conturbada?

Eu imagino que exista essa tensão, mas não lhe posso avançar nada de concreto. Relativamente às colectividades, havia aquela situação de não dizer mal da Câmara se fossem apoiados, mas não era exactamente isso que existia. O que existia é que efectivamente as pessoas que fossem apoiadas não estavam impedidas de falar; agora não faz grande sentido bater a uma porta, ter um parceiro que se disponibiliza para ajudar e logo a seguir politizar a intervenção.

Relativamente a jornais, há jornais que efectivamente são avessos à Câmara do Porto. Não é propriamente à Câmara do Porto, nem a nenhum vereador em especial, mas quase parece, digo quase parece, que decidiram fazer uma cavalgada contra este presidente. Mas eu não creio que se possa dizer que a Câmara do Porto esteja afastada das colectividades, nem tão pouco da Cultura.