Está de volta à cidade um dos mais emblemáticos cafés do Porto: o Luso. A reabilitação do quarteirão da Praça Carlos Alberto fez renascer o espaço, que encerrou há precisamente dez anos. Hoje é dia de inauguração. A partir das 22h00, há tunas e muita música para comemorar o renascimento.

Inaugurado em 1935 com o nome Café Luso-Africano, passou mais tarde a chamar-se apenas Café Luso. Muitas foram as gerações de clientes e comerciantes da zona que por lá passaram e ainda hoje guardam memórias do café com “espírito boémio”. “O Luso sempre teve uma clientela muito transversal, desde comerciantes a estudantes e até algumas figuras notáveis da cidade”, salienta, ao JPN, Fernando Monteiro, um dos três novos sócios que agora gerem o espaço.

Reabilitação do Porto:

O Café Luso renasceu com o programa da Porto Vivo que visa a reabilitação das zonas degradadas. A Praça Carlos Alberto é a primeira zona da Baixa a concluir todos os projectos previstos.

Totalmente renovado, e agora com uma “mais recatada” no piso inferior para “jantares e encontros” com um estilo “assumidamente moderno”, o novo Luso quer “trazer para o século XXI a traça” do antigo café.

Isto apesar nada ter sido aproveitado da anterior arquitectura, visto que a degradação era bastante elevada. Ainda assim, Fernando Monteiro espera que o espaço continue a ser palco de “tertúlias e conversas sobre a cidade do Porto” e que “as pessoas se possam sentir à vontade para desenvolver as suas ideias”.

Igualmente importantes e inesquecíveis são as “francesinhas, a boa cerveja, o tremoço e os preguinhos”. Isso “continua igual”, garante o responsável.

A história

Mário Dorminsky, director e fundador do Fantasporto, era um dos notáveis das artes que costumava frequentar o Luso. Muitas foram as “tertúlias de amigos” em mesas que juntavam, por exemplo, a também fundadora do festival Beatriz Pacheco Pereira e o pintor José Manuel Pereira.

Aliás, continua Dorminsky, foi precisamente no Luso que, numa noite de Outubro de 1980, os três idealizaram um “ciclo de cinema fantástico”, que se viria a realizar em Janeiro no ano seguinte. Estavam dados os primeiros passos para o nascimento do Fantasporto.

Ao JPN, um comerciante da Praça Carlos Alberto sublinha que o “factor histórico” mais relevante das memórias do Luso foi outro. O café viria a ficar conhecido por causa da visita do general Humberto Delgado ao Porto, em 1958. A sede de campanha do general situava-se no andar por cima do Luso e foi nessa varanda que proferiu a todos os portuenses que enchiam a Carlos Alberto a simbólica frase: “O meu coração ficará no Porto”.