Jornalismo, Assessoria e Multimédia são as áreas em que os jovens se podem especializar no curso de Ciências da Comunicação. Todos os anos, o curso vê sair uma fornada de jovens com vontade de trabalhar, mas conscientes do quão difícil é o mercado de trabalho.

“Acabar jornalismo é sempre um tiro no escuro”. Por isso, as perspectivas “não eram muitas”, confessa Marta Couto, licenciada em 2008, actualmente a trabalhar como jornalista na SIC no programa “Boa Tarde” de Conceição Lino. Também José Pedro Pinto, licenciado em 2009 e jornalista na Rádio Renascença, partilhava da mesma desmotivação. No entanto, salienta, há que “perseguir o sonho, independentemente do mercado de trabalho”.

Nas outras áreas do curso, o cenário é mais risonho, refere Olga Magalhães, assessora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e licenciada em 2005. “Tinha perspectivas muito elevadas, demasiadas até”, admite.

Também Beatriz Santos, licenciada em Multimédia em 2008 e actualmente a exercer funções no departamento de Marketing e Relações Externas da Faculdade de Engenharia da U. Porto, sempre acreditou que “ia conseguir emprego”. Saído da faculdade em 2009, Pedro Rocha tinha a certeza que iria “arranjar emprego o mais rapidamente possível”. Hoje é assessor na reitoria da UP.

Estágio curricular “abre muitas portas”

Como poderoso trunfo, os estudantes têm à disposição o estágio, onde podem “mostrar o próprio valor” de cada um, como destaca Carlos Matos Rodrigues, licenciado em 2008 e, actualmente, jornalista na SportTV. A verdade é que foi através do estágio que a oportunidade de emprego surgiu.

Para Olga Magalhães, o estágio “abre muitas portas”. Afinal, “é uma formação intensiva”. Por isso, os adjectivos que caracterizam o papel do estágio não podiam ser outros: “Vital” (Carlos Matos Rodrigues e Marta Couto), “fundamental” (Catarina Pereira), “decisivo” (Sílvio Vieira) e a “fase mais importante do curso” (Mariana Duarte).

Já o estágio de Joana Beleza na agência Lusa “não foi brilhante”. A jornalista da Rádio Renascença refere mesmo que “foi um desastre”, apesar de ter sido igualmente “importante”. “[O estágio] Devia ser o ano todo e em mais do que um sítio”, sublinha, pois entrar no “ambiente complicado” das redacções “é um salto brutal no desenvolvimento enquanto profissionais”.

O ensino é a “base de tudo”

A”base de tudo” é o ensino, refere Catarina Pereira, licenciada em 2008 e jornalista no TVI24.pt. Para uma melhor inserção no mercado de trabalho, a aprendizagem durante os anos do curso revela-se “essencial”, como afirma José Pedro Pinto.

Também Sílvio Vieira, licenciado em 2004 e jornalista na Rádio Renascença, fala da importância dos ensinamentos teóricos “desvalorizados” enquanto se estuda, revelando que são eles que “ajudam a procurar soluções para os problemas que surgem no dia-a-dia”. Para o jornalista, a componente prática e o conhecimento das várias ferramentas é importante porque permite aos alunos uma maior “adaptabilidade”.

Já Marta Couto refere que os estudantes são um “bocadinho cépticos” quanto a algumas disciplinas do curso, questionando vezes sem conta a importância de determinadas matéria. No entanto, afirma que, no fim, os estudantes têm uma “formação muito abrangente”, o que traz vantagens quando se vai trabalhar. “Eu estou a exercer jornalismo, mas volta e meia tenho de pôr vídeos no site”, exemplifica, olhando para a sua experiência profissional.

Antigos estudantes falam de mudanças no ensino

Apesar de o ensino do curso ser de “uma qualidade elevada”, como afirma Olga Magalhães, e de Ciências da Comunicação se apresentar como um curso”muito dinâmico”, como diz Sara Freitas, há sempre aspectos a melhorar. Para José Pedro Pinto, a “carga horária das disciplinas
está desactualizada”, pelo que a prática do jornalismo nas várias áreas (Rádio, Televisão, Imprensa e Online) deveria ser maior. Também Mariana Duarte, jornalista da Time Out Porto, refere este ponto, salientando que um semestre de especialização para jornalismo “é muito pouco”.

Para Catarina Pereira, durante os três anos de licenciatura o ensino devia proporcionar mais “contactos com fontes, políticos, bombeiros, reportagens e saídas para a rua”. No mesmo sentido, Beatriz Santos afirma que o curso devia ter “mais iniciativas”.

Jovens licenciados mostram-se satisfeitos com os seus trabalhos

Actualmente empregados, estes ex-alunos do curso mostram-se “satisfeitos” com o trabalho que desenvolvem. “Eu sempre tive o sonho de trabalhar no desporto da Renascença”, refere José Pedro Pinto e, por isso, não podia “estar mais satisfeito”. Também Sílvio Vieira, uma referência no mundo do desporto, partilha o mesmo sentimento, principalmente porque hoje acaba por “trabalhar em múltiplas plataformas”, não se ficando apenas pela rádio.

Joana Beleza trabalha em jornalismo multimédia na Rádio Renascença. É esta “fusão de linguagens” o que lhe dá mais prazer. Voltando ao jornalismo, Catarina Pereira, que, tal como Joana Beleza e Marta Couto, vive hoje em Lisboa, refere que a mudança não podia ter sido melhor. É na capital que “tudo se passa, onde há mais oportunidades”, diz.

Ainda que estejam contentes com o seu trabalho, Pedro Rocha e Carlos Matos Rodrigues revelam outros horizontes para o futuro. Pedro Rocha pretende evoluir e experimentar outros trabalhos. Revela, no entanto, que na reitoria pode “aprender e treinar tudo” aquilo que lhe foi ensinado.

Por seu lado, Carlos Matos Rodrigues quer “evoluir mais e dar o salto”, pois o actual trabalho não é o “ideal de carreira” com que tinha sonhado. Sente que evoluiu e que é bom “começar de baixo para cima”. No futuro, fica a promessa de “chegar perto da visibilidade e trabalho de um Carlos Daniel ou de uma Judite de Sousa”, onde, na sua opinião, a figura principal acaba por ser o próprio e não o entrevistado.