Pôr a nu a pobreza e a exclusão social em todo o país durante 24 horas é o objectivo a que se propôs, esta quarta-feira, a Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN). A chuva que se fez sentir esta manhã não impediu que dezenas de pessoas se deslocassem à Avenida dos Aliados no Porto para visitarem as exposições das diversas instituições de solidariedade.

“Estamos empenhados em que esta realidade chegue à praça pública e não apenas aos políticos, aos teóricos e aos académicos”, afirma, em declarações ao JPN, Agostinho Jardim Moreira, presidente da direcção da Rede Europeia Anti-Pobreza – Portugal (REAPN).

Para o responsável, é na Invicta que a população enfrenta maiores necessidades e onde existe mais desemprego, problemas que não estão “a ser devidamente tratados”. “O dinheiro dos impostos não vai chegar para resolver as dificuldades de todos”, alerta, apelando para o facto de a pobreza ser uma “injustiça”, cuja solução passa pela tomada de consciência e pela acção da sociedade civil.

É, portanto, segundo Agostinho Moreira, esse o mote desta iniciativa que se insere na semana da luta contra a pobreza e exclusão social, a decorrer até 10 de Outubro [ver caixa].

Uma semana contra a pobreza e exclusão social

Este projecto insere-se nas actividades agendadas para a “Focus Week” [realizada em diferentes estados membros da UE], uma semana dedicada ao combate à pobreza e exclusão social organizada pela REAPN. Hoje realizou-se, também, em Lisboa, o “II Fórum Nacional Pessoas em Situação de Pobreza”. Esta quinta-feira, terá lugar na Assembleia da República uma reunião com deputados de vários partidos para serem apresentadas as principais conclusões. 2010 é o Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social.

Classe média é população “cada vez mais vulnerável”

A poucos dias de comemorar cinco anos de intervenção no Porto, a CAIS, associação que apoia mensalmente 80 sem-abrigo da região, quis marcar presença na mostra social da REAPN e divulgar a acção dos vendedores de rua. “A venda da revista acaba por ser um emprego para eles, uma preparação para a inserção no mercado de trabalho”, revela Cláudia Fernandes, técnica social da Delegação Norte da CAIS, que faz um balanço “bastante positivo” da actividade da instituição.

Para além da presença de outras instituições como a Associação para o Planeamento da Família, com folhetos de sensibilização e com a venda de artesanato realizado por vítimas de tráfico humano, a mostra tem ainda uma exposição de cartazes e outros trabalhos da autoria de alunos dos três aos 15 anos do Agrupamento de Escolas Francisco Torrinha, no âmbito da disciplina de Área de Projecto.

A Ajudaris, que apoia em todo o país duzentas pessoas com o projecto “SOS Fome” e vinte idosos na cidade do Porto, e a Cruz Vermelha são outras das entidades presentes nas “24 horas pelo Combate à Pobreza e Exclusão Social”.

Na Invicta, a Cruz Vermelha está de momento a ajudar mensalmente 47 famílias carenciadas com crianças. Manuela Neves, técnica de Acção Social da delegação do Norte, alerta para o facto de a maioria das pessoas a pedir ajuda pertencer à classe média, uma população “cada vez mais vulnerável”. “Todos os dias nos chegam pedidos de alimentação, de medicação, de desemprego, de pagamento de rendas de casa e está a ser desesperante”, lamenta.

A mostra da REAPN funcionou durante todo o dia na Avenida dos Aliados, com actividades de animação, através de teatro e concertos e de fortes apelos acerca da pobreza e exclusão social, entre os quais uma marcha que percorreu a Rua Sá da Bandeira e a Rua Rodrigues Sampaio.

Até às 22h00, decorre em simultâneo na Praça da Liberdade, uma Feira da Saúde onde serão feitos diversos rastreios à população.