É uma “libertação”, com uma pitada de “provocante” e “sexual”… É assim que Paulo Fernandes descreve a sua música. Detentor de performance e atitude irreverentes, o artista regressa com um novo disco de canções “fortes” e dedicadas ao seu público. Com ele, estão Paulo Garim, Funky, Tozé Torres e Gustavo Silva, em “luta” para promover o novo álbum. Apresentam-se, amanhã, na Festa Oficial do Portugal Fashion, no Edifício Transparente.

Antes de mais, quem vou entrevistar: o Paulo ou o Slimmy?
Por acaso, não sei. Acho que já ando um bocado mascarado de Slimmy durante o dia. Acordo com a minha música na rádio e sinto-me como Slimmy. Os dois cruzam-se bastante. Digamos que o Slimmy é uma personagem que acabei por criar para mandar cá para fora uma atitude mais provocante, de um mundo não atingível. O Paulo tem de se sujeitar um bocado à sociedade, às leis e às regras. O Slimmy vive num caos mais ao menos organizado, em que facilmente se perde o controlo e onde o mundo é muito colorido e sexual. É uma libertação. Só que há gente que não entende assim e desde que comecei que tenho batalhado. Têm sido lutas atrás de lutas e a divulgação deste álbum será outra luta que espero vencer.

O que dirias que mudou de “Beatsound Loverboy”, primeiro álbum para este novo CD, “Be Someone Else”?
Há uma mudança óbvia, que é o facto de termos mais gente na banda. O “Be Someone Else” é um disco gravado de uma forma mais orgânica enquanto banda. Já no “Beatsound Loverboy”, alguns daqueles temas foram gravados por mim na íntegra. Entretanto, houve uma mudança e criou-se uma certa estrutura à volta de Slimmy, que me permitiu gravar um disco com mais corpo, não tão “electro” como o primeiro, mas mantendo a mesma linha das canções e a mistura entre rock e música electrónica.

Disseste em entrevista que este disco se baseia muito nas tuas vivências. Mais do que o anterior?
Não, o “Be Someone Else” é menos individualista do que o “Beatsound Loverboy”. O “Beatsound Loverboy” é um best of da minha vida até àquele momento, a nível das mulheres com quem eu vivi e a experiência de ir para Londres. Há músicas que falam sobre essa diferença de culturas, a partir do momento em que absorvi a cultura inglesa. A primeira música que me “saiu” quando estava em Londres, está lá no disco. Este álbum tem mais mensagens para as pessoas, não é tanto sobre mim.

Sendo que é um CD dedicado ao público, que mensagem pretendes transmitir?
Senti, enquanto músico profissional, ao retornar do “Beatsound Loverboy”, que não sei se as pessoas estão realmente preparadas para algo diferente ou para ver alguém diferente. É engraçado que “Be Someone Else”, o título que dei ao disco, já vem de 2001, quando andava a batalhar sozinho, contra tudo e contra todos, e nem arranjava membros para tocar comigo na banda. Reparava que tinhas mesmo de dar mais de ti se quisesses ser alguém diferente. O “Be Someone Else” pretende ser esse alguém diferente, não no caso de ser diferente só por ser, mas porque tens um sonho de chegar lá. Não somente ficar por ter o sonho, mas realizá-lo! Encaro como uma mensagem para as pessoas se preocuparem menos com os outros e mais consigo próprias e irem atrás do que realmente querem. E eu sinto-me todos os dias a realizar os meus sonhos.

Este álbum passou um pouco despercebido quando foi lançado e estão, agora, a tentar divulgá-lo. Como se tem processado a promoção?
Comparado com o primeiro… Eu vinha de Londres, com uma sincronização do CSI Miami, portanto era muito fácil “trabalhar” o disco, porque fez algum “barulho”. Este saiu numa fase má, perto da “silly season”, antes de Agosto. Agora, estamos a ir atrás do prejuízo, mas acho que vai “entrar” nas pessoas, sabes? É uma questão de tempo. Acredito sinceramente, até porque gosto mais deste disco do que o primeiro. Neste disco, as canções são mais fortes, tocam-te mais lá no fundo. Então é uma pena não mostrar às pessoas… É uma luta.

Achas que o público português está mais receptivo à tua música?
De uma forma geral sinto, mas vamos levando, de vez em quando, com alguns desgostos. Sinto que as pessoas vão mudando um bocado a mentalidade e Portugal já não é assim tão atrasado em relação a outros países, como toda a gente diz ou como se pensa. Quem pensa assim acho que é derrotista. Acho que está muito melhor e, a nível de público, não ficamos a dever nada ao público inglês ou alemão.