Nos dias 9 e 16 de Outubro, alguns dos cafés mais emblemáticos da Invicta receberam recitais de violoncelo numa iniciativa da Casa da Música.

O Café Guarany, na Avenida dos Aliados, foi um dos locais. Fundado em 1933, este espaço é conhecido por ser o “café dos músicos”. No primeiro sábado do evento, fazendo jus à fama, muitos marcaram presença no recital, aproveitando para tomar o pequeno-almoço em família, ao som do violoncelo.

John é australiano, vive em Londres, mas encontra-se actualmente pelo Porto. Neste sábado, foi apanhado de surpresa pelo recital enquanto tomava o pequeno-almoço com amigos no Guarany. “É óptimo vir tomar pequeno-almoço e ser surpreendido com isto”, diz. No entanto, a maior parte das pessoas parece ter vindo propositadamente para o evento. Isabel Vales é um desses casos. Acompanhada pelo marido e pela filha, explica que decidiu vir ao recitar porque considera importante que a filha “comece a gostar e a conhecer este tipo de música”.

Assim que se ouviram os primeiros acordes, o burburinho da sala diminuiu e os olhares prenderam-se em Marco Pereira. O violoncelista apresenta-se regularmente em recitais de piano por Portugal e Espanha e, actualmente, faz parte de muitos grupos musicais, entre os quais o Quarteto de Cordas de Matosinhos e o Remix Ensemble, o grupo de música contemporânea da Casa da Música. Este tipo de iniciativas agrada a Marco Pereira, pois, explica, retomam o costume do século XIX de tocar em cafés.

Café Progresso

O Café Progresso foi outra das passagens obrigatórias do violoncelo. Fundado em 1899, o Progresso é o Café mais antigo da cidade do Porto e, fruto da proximidade à Praça Carlos Alberto e ao Teatro, sempre teve uma ligação forte com a cultura. Local habitual de recitais de poesia e sessões de jazz, o Progresso rendeu-se, durante dois sábados, ao violoncelo.

Filipe Quaresma foi o violoncelista de serviço, conseguindo arrancar do público aplausos entusiasmados no final de cada música. As mesas estiveram todas ocupadas e muitos tiveram mesmo de assistir ao recital de pé. Filipe Quaresma é o violoncelo principal da Orquestra Barroca da Casa da Música e recebeu, em 2010, o prémio Walter Boccacini da Scuola di Musica de Florença.

O violoncelista acha a ideia da Casa da Música “maravilhosa” e importante, pois promove o “contacto com o público”. A mesma opinião tem Afonso Fernandes, proprietário do Progresso desde 2003, que entende que este tipo de iniciativas permitem a “democratização da música erudita”.

Café Majestic

Também no Majestic não faltou público. Um dos espaços incontornáveis da cidade, o Majestic foi inaugurado em 1921 sob o nome “Elite” e era frequentado por intelectuais, artistas e alta burguesia portuense. No primeiro sábado do evento, o Majestic encheu-se de gente e, por entre o barulho, as vozes fundiram-se numa amálgama de idiomas. Há famílias, casais de namorados, pessoas sozinhas, crianças e muitos turistas.

O recital esteve a cargo de Konstanze von Gutzeit, alemã que já conquistou o ouvido de muitos um pouco por todo o mundo, com concertos na Europa, EUA, Japão e América Central. Em conversa como JPN disse “adorar” a cidade.

Johan, alemão, está no Porto de visita e veio assistir ao recital. Toca violoncelo e já tinha ouvido falar de Konstanze, pelo que decidiu espreitar o espectáculo. “Apesar de haver muito barulho”, confessa que gostou da experiência. Quem também está de passagem pela Invicta é Roy Juenthen, há uma semana no Porto com a esposa. Ficou muito surpreendido pelo concerto e não esconde o contentamento. “Achei excelente”, exclama.

Os concertos de violoncelo aconteceram em simultâneo nos cafés Aviz, Âncora Douro, Ceuta, Três C e Galerias Paris, traçando um roteiro pelos cafés mais emblemáticos da cidade, com muita música à mistura.