Pela primeira vez, a Bola de Ouro da France Football e o troféu de Melhor do Ano da FIFA juntaram-se para eleger o melhor futebolista do planeta. Fazia confusão há bastante tempo que assim não fosse. A FIFA criou o seu galardão em 1991 e criou-lhe progressivamente impacto e respeito, mas a France Football andava nestas coisas desde os anos 50 e mantinha o seu prestígio muito tranquilamente inabalado.

Dada a dimensão dos dois, era cada vez mais pertubador (e raro) a Bola ser dada a um e o Melhor do Ano a outro, pelo que, nos últimos anos, a Bola, entregue poucos meses antes, cada vez mais servia para anunciar o vencedor FIFA, em Dezembro.

Curiosamente, a fusão surge num ano em que os dois melhores e mais determinantes do mundo, Messi e Ronaldo, não merecem absolutamente ganhar. Apesar dos naturais anos fortíssimos a nível pessoal, tanto um como outro falharam a Liga dos Campeões e o Mundial (menos Messi, sim, mas também), pelo que uma eleição que caísse num dos dois representaria uma descredibilização pública, que acredito nenhuma das entidades deseja desde o ano um. Sobrará, por isso, uma boa dose de indefinição, e, pelo menos, uma mão cheia de grandes temporadas a premiar. É um ano invulgar e entusiasmante nesse sentido, já que o provável vencedor será um nome “menor”, depois de Messi, Ronaldo e Kaká.

Antes de aprofundar os que estão, é imperioso, no entanto, falar de quem foi esquecido e do nome em particular que suscitou polémica desde o anúncio da lista, na minha opinião, mais do que justificada: Diego Milito. O trintão que Mourinho descobriu em Génova, então já quase condenado para sempre ao ocaso dos grandes palcos, só não cabe numa lista destas para quem não tiver visto futebol na última época. Logo Milito, o homem do golo que valeu o campeonato ao Inter, do golo que valeu a Taça de Itália e do bis no Bernabéu que valeu a final da Liga dos Campeões. Logo ele, quando estão Dani Alves, Eto’o ou Klose. Milito não ganharia de facto, mas se são nomeados 23 é porque isto tem muito de simbólico, e trocá-lo pelos nomes mais importantes é tão só cair no ridículo. E é pena.

Dos candidatos, acredito que a justiça determinaria um quinteto desenhado entre Xavi, Sneijder, Robben, Forlán e Müller. O alemão foi a suprema revelação da época, e espantou do Bayern que foi à final da Liga dos Campeões à Alemanha caída nas meias-finais da África do Sul. Robben foi o jogador mais determinante desse extraordinário Bayern e a segunda força motriz da Holanda finalista do Mundial. E Forlán, aos 31 anos, ganhou a Liga Europa e bateu toda a gente como o Melhor Jogador do Campeonato do Mundo.

No entanto, a verdadeira discussão residirá no duelo entre dois baixinhos de 1,70m. Xavi é extraordinário, toda a gente sabe disso, e além de tudo o que já tinha ganho nos últimos dois anos, fez questão de ser o jogador mais determinante da Espanha dona e senhora do Mundo. Seria um vencedor natural.

Ainda assim, o meu prémio seria holandês. Das botas de Wesley Sneijder, o Pequeno Genial, proscrito em Madrid e ressuscitado a preço de saldo por um feiticeiro português, saíu uma triplete em Milão, a consagração como Melhor Jogador da Liga dos Campeões e a incrível caminhada da Holanda mecânica até à final de Joanesburgo, na qual muito poucas almas acreditariam. Perdeu, é verdade, mas nem por isso a época de Sneijder é menos perfeita. No ano dos underdogs, não haverá melhor vencedor para a Bola de Ouro FIFA.