Em Moçambique, vários voluntários recolhem o maior número de informações sobre as crianças envolvidas no projecto. “Todas as novidades são organizadas e inseridas numa base de dados”, explica Rita Esteves, membro da direcção da Associação de Tutores e Amigos da Criança Africana (ATACA).

As crianças são submetidas a “um acompanhamento rigoroso”, salienta. Todos os afilhados são pesados e medidos regularmente para detectar a existência de melhorias a nível nutricional. Estas informações são depois enviadas para os tutores portugueses, que assim “continuam motivados a ajudar os afilhados”.

A maioria dos jovens apoiados pela ATACA estão em idade escolar e, por isso, os voluntários verificam as notas de cada um e sempre que possível dão explicações de português.

Pais não querem que os filhos estudem

A associação ajuda também crianças que vivem com familiares. “O objectivo é conseguir criar independência económica nas famílias para que eles possam estudar e ter condições, evitando assim que tenham de ir para instituições de acolhimento”, revela Rita Esteves.

Nestes casos, quem se presta a ajudar entrega directamente a um responsável do lar o donativo do tutor, que, através de fotografias e de outras informações, vai avaliando as condições da casa e acompanhando os gastos.

À sede chegam todas estas informações e por vezes registam-se casos em que as crianças têm de ser retiradas do projecto “porque os próprios pais não querem dar seguimento à escolaridade dos filhos”, explica António Alves, 59 anos, voluntário que todos os sábados, “faça chuva ou faça sol”, se desloca às instalações da ATACA. “Têm outra mentalidade”, lamenta.

Em Moçambique, “o rendimento está na terra e no que se cultiva e, por isso, muitos jovens têm de ir trabalhar para os terrenos”, conta um dos membros da direcção. Uma outra característica da realidade africana é a elevada taxa de mulheres e de crianças seropositivas. Segundo projecções do Instituto Nacional de Estatística do país, estima-se que actualmente o VIH atinja 154 mil crianças.

Isménia Oliveira teve a oportunidade de lidar com estes factores no terreno. A dietista fez, em 2008, a avaliação nutricional das crianças apadrinhadas, muitas delas consideradas desnutridas. Deu também formação sobre Educação Sexual aos progenitores e aos jovens para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

A voluntária cedo se apercebeu das “dificuldades” sentidas pela população de Moçambique. Na verdade, diz, “o dinheiro não chega” para a quantidade de crianças que todos os anos nascem no país.