Apesar de uma primeira relação com as artes “muito decepcionante” – nunca conseguiu uma nota positiva a desenho à vista e desistiu de aprender piano “por recomendação da professora” -, Artur Santos Silva recebeu, esta terça-feira, o grau de doutor Honoris Causa da Universidade do Porto (UP). “Com perplexidade e surpresa”, afirmou, no seu discurso de agradecimento.

Solução está nas universidades:

Artur Santos Silva não deseja uma intervenção externa em Portugal, nomeadamente do FMI. Para o banqueiro, o país deve “superar a crise com as próprias forças”, apostando nas universidades. “A minha grande esperança reside nas universidades portugueses onde estão os nossos melhores.” À luz deste tema, Artur Santos Silva cita Nuno Ferrand Almeida, professor de Biologia da Faculdade de Ciência: “As nossas elites olham para o lado antigo do que foi Portugal quando temos ao lado um país a desenvolver-se muitíssimo e a mostrar que é capaz de ombrear com os mais desenvolvidos. É nossa obrigaçao e da comunicaçao social dar conta deste outro país.”

A proposta partiu do presidente do Conselho Directivo e Científico da Faculdade de Belas Artes (FBAUP), o pintor Francisco Laranjo, e foi rapidamente aceite pela UP. A instituição decidiu distinguir o fundador do BPI pelo “apoio dado às artes”, uma vez que o banco é mecenas de instituições culturais como a Casa da Música e a Fundação de Serralves.

Uma política que, para Santos Silva, não justifica o título pessoal: “Sendo este gesto de reconhecimento justificado pelo apoio que terei dado às artes, não deveria ser eu, mas o BPI o destinatário desta distinção, uma vez que sou apenas um rosto de uma política de responsabilidade pública, em que o apoio às artes ocupa um dos desígnios prioritários.”

De “genuína modéstia” e em “permanente disponibilidade”

O banqueiro foi apadrinhado por José Rodrigues, escultor e fundador da cooperativa Árvore. Coube a Pedro Teixeira Bastos, docente da Faculdade de Medicina da UP, o elogio do doutorando, que descreveu como um homem de “genuína modéstia” em “permanente disponibilidade” e de grande “lealdade”.

“É um dos melhores jogadores portugueses de Bridge, pratica cicloturismo e é ainda um sofrível mas perserverante praticante de ténis”, gracejou.

Num longo discurso, o médico focou vários aspectos da vida de Santos Silva, entre os quais a ruptura com o PPD, momento em que proferiu: “O mundo da política não é o meu mundo. Tem de se andar permanentemente em compromisso e há uma grande diferença entre o que se quer fazer e o que se pode efectivamente fazer.”

Teixeira Bastos salientou, ainda, que Artur Santos Silva já “identificou cirurgicamente” a maior razão para a actual situação financeira e social do país, ao afirmar que, “em Portugal, as elites não se assumem, não têm protagonistas”.

“As nossas elites têm de assumir mais proactividade, mais iniciativa na discussão dos desafios e nas propostas de caminhos para um futuro mais ambicioso, para um país mais moderno e mais justo”, sublinhou Artur Santos Silva, a meio do seu discurso. E resume a receita: “Para modernizar o nosso país, precisamos hoje de menos e melhor investimento público, mais investimento privado sustentável, maior poupança privada, mais inovação e investigação, mais empreendedorismo qualificado.”