Já sabemos que a crise apura o engenho, logo é natural que as lojas de produtos em segunda mão vejam a clientela a crescer de dia para dia.

A relação qualidade/preço é vantajosa. As lojas garantem um artigos com um determinado padrão de qualidade e a preços baixos. Argumentos que convenceram Maria Fernanda, que compra nestes espaços principalmente “electrodomésticos e todo o tipo de produtos eléctricos”, sobretudo “pelo preço e pela garantia que as lojas dão”.

Também Jorge Reis, que não dispensa uma visita a este tipo de espaços, no preço e na garantia dos produtos as principais qualidades deste tipo de comércio. “Se precisar de trocar, como já aconteceu, troco sem qualquer problema.”

Maria Fernanda considera que o preconceito em relação à compra deste tipo de produtos tem vindo a diminuir: “As pessoas têm pouco dinheiro e então recorrem às lojas de segunda mão, onde se compra mais barato.”

Francisco Hébola, funcionário da Porto Alternativo, loja da Rua de Santo Ildefonso que vende todo o tipo de artigos usados, admite que continua a existir algum tipo de preconceito, principalmente por parte de pessoas que, por terem pertencido a classes sociais altas, “têm receio de dar a cara”.

A Porto Alternativo tem, por isso, um anexo recatado, onde recebe as pessoas que pretendem vender algum produto usado. “As pessoas chegam a fazer fila à porta”, conta o funcionário.

O exemplo da “Kid to Kid”

Porque as crianças crescem mais depressa do que o rendimento familiar, os artigos infantis são os mais procurados nestes espaços. Desde roupas a carrinhos de bebé, passando pelos brinquedos e pelos berços, há um enorme leque de possibilidades de compra, sempre a preços de saldo.

Para os empresários, a abertura de lojas dedicadas a este tipo de negócio é, também, uma forma de contornar a crise: “Estávamos desempregadas há algum tempo e, como tínhamos vontade de criar o nosso próprio negócio, resolvemos apostar”, conta Catarina Cunha, que, juntamente com Susana Pato, fundou a “Kid to Kid“, uma rede dedicada à compra e venda de artigos usados para crianças até aos dez anos.

Na maior parte destas lojas, existe uma remuneração pelos artigos deixados. No entanto, há algumas que têm um carácter solidário: as roupas são doadas por particulares ou empresas e depois vendidas a preços simbólicos. É o caso da Re(vestir), em Braga, que coloca à venda roupa e calçado a preços que não ultrapassam os 15 euros.