O relógio assinala as 10 horas da manhã. À porta do Refeitório Solidário da Ordem da Trindade a fila para a primeira refeição do dia já se começou a formar e engane-se quem pensa que nos referimos ao pequeno-almoço.

Para a grande maioria destas pessoas, a primeira refeição do dia faz-se ao almoço, oferecido pela instituição. A hora ainda vai longe, mas são sempre muitos os que, desde cedo, se instalam à porta do refeitório para serem os primeiros a entrar.

Como refere Idalina Vilela, responsável pelo refeitório, a instituição encontra-se aberta todos os dias do ano, “mesmo em épocas tão especiais como o Natal e o Ano Novo”. A ajuda é essencialmente alimentar, mas a instituição também oferece alguns agasalhos para aliviar o frio que se faz sentir durante o dia e a noite na cidade do Porto.

A responsável afirma ainda que o refeitório não nega ajuda a ninguém e que diariamente fornece cerca de 70 refeições aos mais necessitados da cidade. Os números não param de crescer, salienta Idalina, e são cada vez mais os que recorrem à instituição para fazerem as suas refeições diárias. Gente que até já teve uma vida normal, mas que hoje não consegue pagar uma refeição do seu próprio bolso.

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Rostos de uma realidade

É quase sempre um dos primeiros da fila e foi com um semblante pesado e parco em palavras que Augusto Silva falou ao JPN das suas idas ao refeitório. Para o ex-trabalhador de construção civil, as “dificuldades da vida” obrigaram-no a recorrer à instituição. Hoje em dia, Augusto tem como tecto, o céu da cidade do Porto.

Vive na rua e todos os dias almoça no Refeitório Solidário da Ordem da Trindade. A ajuda prestada pela instituição é valiosa para Augusto, que não poupa elogios ao estabelecimento solidário.

Maria da Glória Monteiro é outro rosto desta realidade. Chegou a trabalhar na instituição, mas hoje vê-se obrigada a recorrer à ajuda do refeitório. Ao peito, Maria traz uma pequena placa que a identifica como diabética de alto risco, doença que veio piorar a sua situação monetária. A ajuda do refeitório tornou-se assim numa assistência importante para Maria Monteiro, que valoriza a hospitalidade das funcionárias.

Nova pobreza

Maria Azeredo conta já com 37 anos de trabalho no refeitório e explica que não é uma tarefa fácil. “É preciso ter espírito para trabalhar neste serviço”, confessa, apesar de trabalhar com “muito gosto e prazer”.

Sobre o perfil das pessoas que recorrem à ajuda da instituição, Maria afirma que hoje em dia são cada vez mais jovens. A funcionária, que todos os dias se encontra na instituição, afirma que também no refeitório a questão da “nova pobreza” é uma realidade bem visível.

A crise arrastou para as instituições de solidariedade portugueses que até há bem pouco tempo tinham uma vida normal. O Refeitório Solidário da Ordem da Trindade não é excepção e por lá já não passam só sem-abrigo, toxicodependentes ou outros doentes. Os jovens que procuram o primeiro emprego, empregados com baixos salários e trabalhadores em situação precária são rostos da “nova pobreza” que se instala no país.