Segundo fonte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), já foi dado o “despacho de abertura ao processo de classificação” da ponte da Arrábida como monumento nacional “no dia 13 de Dezembro”. De acordo com o despacho presente em Diário da República, a ponte da Arrábida passa a ter, durante este período, “protecção legal”, pelo que qualquer construção nas suas imediações terá de ser submetida a um parecer do ministério da Cultura.

Em causa está uma petição, lançada por diversos elementos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), para classificar com urgência a ponte como monumento nacional. Isto para impedir a construção de um prédio de nove andares junto à ponte, que está a ser apreciado pela Câmara Municipal do Porto (CMP) e que, segundo os responsáveis pela petição, tapará “significativamente a vista da ponte na estrada marginal, do lado do Porto”.

Em declarações à agência Lusa, Paula Silva, responsável pela Direcção Regional de Cultura do Norte (DRC-N) diz que se existir “alguma coisa para construir na envolvente, o ministério da Cultura, através da DRC-N e do Igespar, tem de se pronunciar sobre o projecto”, logo a partir do momento “em que é aberto o processo de classificação”. O parecer passa a ser “obrigatório e vinculativo” e, caso a resposta não seja positiva, o “projecto terá de ser alterado”.

Um “caminho duro a percorrer até à classificação”

Manuel Matos Fernandes, director do departamento de Engenharia Civil da FEUP e mentor desta iniciativa, encara a novidade com “muita satisfação” e elogia a “resposta relativamente rápida” ao pedido, que tinha dado entrada na DRC-N em Agosto e teria começado a ser analisado pelo IGESPAR a partir de Novembro.

Mas, apesar da “óptima notícia”, Matos Fernandes relembra que tal “não significa que não haja um caminho duro a percorrer até à classificação” propriamente dita. No entanto, todos os intervenientes na proposta prometem, diz Matos Fernandes, que, até 31 de Dezembro de 2011 (prazo para conclusão de todo o processo), vão participar nas diversas fases do processo “de forma empenhada, apelando à adesão à petição e arranjando novas participações”.

Segundo o engenheiro civil, é importante preservar a zona envolvente porque “certas construções nas proximidades afectam de modo muito significativo” a imagem da ponte da Arrábida, uma obra com “valor especial” por ter sido pensada, “na sua forma e concepção” para o tipo de forma do local onde se encontra. “Forrando” a encosta da ponte “com betão e vidro”, diz, “a obra perde-se”. Ou pelo menos perde-se aquilo que confere à obra uma “natureza excepcional”. “É preciso ter muito respeito pela memória colectiva e pelo modo como olhamos para a Ponte da Arrábida desde sempre”, explica.

Matos Fernandes não entende por que razão há projectos de construção para os locais perto da ponte, especialmente por existirem no Porto “tantas zonas para construir e reconstruir”. “É gritante ver tanto espaço a precisar de reabilitação… até que ponto, numa cidade com zonas desabitadas, havia necessidade de ocupar estes locais?”, interroga-se o engenheiro civil.

Uma proposta poderá estar, ainda, na calha, diz o director, para uma eventual “reabilitação dos elevadores no tabuleiro da ponte”, com vista “repor uma das funções originais da ponte” e “melhorar a mobilidade da população”.