Todos os dias, o Centro Cultural Islâmico do Porto recebe vários muçulmanos que habitam na região. Muçulmanos desde sempre ou convertidos: nos últimos dez anos “converteram-se ao Islamismo vinte famílias portuguesas”, um número que “está a aumentar cada vez mais”, ressalva Amadú Camará, imã da mesquita da rua do Heroísmo, sede do centro criado em 1999.

Os muçulmanos sempre se sentiram bem recebidos em Portugal e, principalmente, na cidade do Porto, salienta. Tal facto deve-se, em parte, “ao passado colonizador dos portugueses”, como explica o imã. A mesma opinião tem Hanane Laborat, uma jovem muçulmana de origem marroquina residente na cidade há mais de dois anos.

Apesar deste acolhimento por parte da população portuguesa, “ainda existem preconceitos em relação aos muçulmanos”, sublinha Amadú Camará. E critica as pessoas que escrevem sobre a religião sem a conhecerem bem por dentro, nomeadamente o jornalista José Rodrigues dos Santos, que, na opinião do imã, escreveu sobre o Islão para “para ganhar dinheiro”. “Uma pessoa que não é muçulmano, que não sabe nada, como é que pode escrever sobre o islamismo?”, indaga.

No mesmo sentido, Hanane salienta que os muçulmanos não são violentos. “O Islão está contra a morte de outras pessoas. Os muçulmanos verdadeiros não podem fazer isso.” Felizmente, “muita gente começa a duvidar” das críticas apontadas à religião, diz Amadú Camará, que tem observado que os muitos muçulmanos de origem portuguesa que ingressam no Centro Islâmico separam a religião da política.

A mulher muçulmana

A questão da opressão da mulher muçulmana tem sido o foco de muitas notícias nos últimos tempos. Uma abordagem que “os média tendem a generalizar e que não acontece na realidade porque a mulher muçulmana pode sentir-se bem”. “Ela tem tudo”, enfatiza Hanane. A jovem muçulmana acrescenta que, de acordo com a religião, “o homem não pode bater na mulher, nem fechá-la em casa”.

Em Portugal, as mulheres muçulmanas “têm conseguido adaptar-se muito bem”, salienta o imã Amadú Camará. De tal forma que, nos últimos anos, a mesquita tem sido palco de “vários casamentos de raparigas portuguesas com rapazes muçulmanos e vice-versa” atraídos pelos “ensinamentos do Islamismo, como a tolerância, o saber amar, perdoar, conviver e dialogar”. Uma convivência que o espaço procura alargar ao contacto com outras religiões para “dialogar” e “demonstrar a simplicidade e a tolerância do Islamismo”.

A mesquita é um espaço de oração para todos os muçulmanos. E não só – todos os domingos as mulheres reúnem-se para se ajudarem mutuamente.

Nárma Belkarma, também muçulmana de origem marroquina, diz que esta é uma forma de as mulheres conseguirem “perceber quem está doente e se precisa de alguma coisa”. “Existem também muitas mulheres que não falam muito bem português. Por isso, depois de falarmos da religião, tentamos aprender um bocadinho de português.”