A relação entre as artes visuais e performativas, um dos maiores “esteiros da comunidade artística”, vai ser um dos maiores objectos de reflexão de Serralves durante o ano de 2011, avançou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, João Fernandes, director do Museu de Arte Contemporânea (MAC).

“Improvisações/Colaborações” aproxima dois mundos que chegaram a estar em oposição. Durante três meses, de Abril a Junho, o museu cruza manifestações das artes do espaço (as visuais) com as do tempo (acções performativas que envolvem imagem em movimento), num ciclo que tem como centro “Off Of The Wall”. Esta exposição, co-produzida com o Whitney Museum for Contemporary Art, reúne 30 acções performativas de artistas como Dara Birnbaum, Roy Lichtenstein, Robert Mapplethorpe, Yoko Ono, Cindy Sherman ou Andy Warhol.

É, por isso, uma “iniciativa de grande fôlego”, enfatiza João Fernandes. É também neste ciclo que a dança contemporânea, que tão arredada está dos palcos portuenses, regressa em força à cidade. De 18 de Abril a 1 de Maio, a Trisha Brown Company celebra o 40.º aniversário com a apresentação de 13 peças que compõem a sequência “Early Works”. Já Deborah Hay traz, de Março a Julho, o projecto OPorto Solo Comission Project, uma encomenda da Fundação de Serralves, em que a coreógrafa trabalha com alguns artistas seleccionados num longo brainstorming performativo.

As artes performativas estão também representadas até Março em articulação com a exposição “Às Artes, Cidadãos!”. De destacar o workshop do colectivo multinacional de artistas sonoros Ultra-Red, realizado de 19 a 26 de Fevereiro, e a apresentação do novo projecto de um “nome histórico”: Marina Rosenfeld.

Três portugueses e o 20 anos de jazz

Ainda no contexto da exibição “Às Artes, Cidadãos”, Serralves recebe um ciclo de cinema que liga a Política e as Artes. É uma oportunidade para assistir ao “filme mítico” de 345 minutos de Peter Watkins sobre a Comuna de Paris e a “Film Socialisme”, nova obra de Jean-Luc Godard.

Em Abril, José Barrias, artista português a residir em Milão, volta às exposições no país depois da retrospectiva na Fundação Calouste Gulbenkian. Também Leonor Antunes, que vive em Berlim, regressa a Portugal para se instalar durante o mês de Julho na Casa de Serralves. Uma exposição que será depois adaptada noutros espaços, nomeadamente na Kunstverein, em Dusseldorf. Eduardo Batarda, Grande Prémio EDP 2007, expõe em Novembro, completando o leque de portugueses.

Em Outubro, o MAC recebe uma “retrospectiva de um dos mais importantes fotógrafos do nosso tempo”, considera João Fernandes, referindo-se a Thomas Struth. O Serralves em Festa regressa entre o final de Maio e a primeira semana de Junho, tal como o Festival Trama e o ciclo Documente-se!. 2011 assiste também ao 20.º aniversário do Jazz no Parque, desde sempre um “sucesso”, com um “público já construído”.

Serralves em 2010:

– 450 mil visitantes (+ 12% do que 2009)
– 70 mil visitantes estrangeiros (+ 40% do que 2009)
– 135 mil participantes no serviço educativo (+ 20% do que 2009)

Orçamento de nove milhões de euros

Para 2011, a instituição deverá contar com um orçamento de nove milhões de euros. As negociações com o Ministério da Cultura ainda estão a decorrer, mas tudo leva a crer que este ano “o panorama seja mais favorável do que no ano passado”, avançou Luís Braga da Cruz, presidente do Conselho de Administração, referindo-se aos apoios governamentais.

A programação para 2011 poderá ser enriquecida ou não – tudo depende dos apoios que a instituição receba. O grande destaque do ano, “Improvisações/Colaborações”, por exemplo, conta com fundos europeus a que Serralves se candidatou. “Todas as instituições têm de saber viver com o que têm”, enfatizou a directora-geral, Odete Patrício. O importante é ter uma “gestão rigorosa”, mas nunca “defraudar o público”. “Temos de ser muito criativos.”

A grande aposta de 2011 vai para a internacionalização. “Vamos valorizar o trabalho em cooperação com outras instituições estrangeiras”, salientou Braga da Cruz. Para isso, será fomentada a “interacção com o que de bom se faz no mundo”, mas não só. A abertura passa também pela “extensão cultural”, isto é, no “reforço do trabalho com as autarquias e municípios”.

Partes do acervo vão estar, assim, em digressão pelo país e pelo mundo, mas, pela primeira vez, estarão também expostas durante todo o ano na Casa de Serralves, uma decisão tomada a pensar nos turistas.

“Vamos juntar dois desígnios: dar visibilidade à colecção e à Casa”, conclui Odete Patrício, que também chama a atenção para a nova parceria com a Universidade do Porto. Em parceria com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), vai ser criado um centro de investigação para a biodiversidade com o objectivo de implementar um projecto de certificação ambiental na instituição.