16h20. Adília e a filha vão apanhar erva para o gado. Neste tempo não há muito mais a fazer. O S. Miguel, o tempo das vindimas e das desfolhadas já passou. As vindimas correram bem: há vinho que chegue e que sobre. E nas desfolhadas “toda a família vem para ajudar a desfolhar”. “Comem doçaria e bebem vinho e, no fim, há bailarico e toda a gente bailarica”, orgulha-se Adília.

Mãe e filha põem as foucinhas ao ombro e duas cordas debaixo do braço. Estão prontas para ir apanhar a erva para o lameiro. Ao chegar ao campo, pousam as cordas e “de rabo para o ar” começam a apanhar erva. É difícil de apanhar porque a erva é muito pequena. Mesmo assim, a foucinha parece trabalhar sozinha, de forma rápida, quase mecânica. Já são muitos anos a apanhar a trabalhar à mão. Conversam e cantam, desta vez sobre a Cascata da Frecha da Mizarela, que fica na Serra da Freita.

“O tempo passa a correr”, diz Adília à filha. São quase 17h30. Adília vai buscar as cordas para fazer os molhos enquanto a filha apanha a erva que falta. Mas antes diz: “Agora é que sabia bem uma pinguita de vinho!”

Cada uma leva um molho à cabeça. Ainda têm de caminhar bastante até casa. Está a escurecer. O sol há muito que se foi embora. Agora anoitece cedo. Mas antes há que alimentar o gado pela terceira vez. A última refeição é pasto seco. Alcides fecha a porta. Sabe que não terá de a abrir mais hoje. Alcides e Adília sobem os doze degraus de escada sem muito esforço. Ela acende o lume com pinhas e lenha miúda. Ele tira as botas e põe os pés à lareira. Está mesmo muito frio.

Ligam a televisão, mas não lhe dão atenção. Preferem conversar sobre o dia de trabalho e do cansaço que sentem. “É duro, mas gostamos muito de viver aqui. Aqui é que se está bem. Não há barulho, respira-se ar puro, há sossego, toda a gente se conhece. É bom viver aqui”, dizem.

Por volta das 19h00, Adília começa a fazer o jantar. É caldo de couves “ao lume”, como é costume, porque, diz, fica mais saboroso.

Às 20h30 já jantaram e a cozinha já está arrumada. É hora de ir para a cama descansar. Fica um silêncio ensurdecedor. Amanhã é um novo dia, um novo dia de trabalho.