Depois de Mão Morta e de adiado o concerto de Mind Da Gap (para local e data a anunciar), foi a vez dos Teratron se estrearem, ao vivo e a “diversas” cores, no Teatro Rivoli. A sala não se encontrava muito cheia no dia 7 de Fevereiro, mas o que é certo é que, bem antes do começo, já se fazia sentir a inquietude dos vários jovens presentes. Tudo fazia crer que muito do entusiasmo se deveria, no entanto, à oportunidade de ver elementos dos recém-separados Da Weasel.

Apagadas as luzes do teatro, ganharam destaque as letras de Teratron, com um toque a cinemático grotesco saído de “Godzilla”, a que a cor verde dava realce. Acima das letras gigantescas, colocava-se o baterista num plano “superior” ao dos outros músicos.

O concerto teve início com o som incessante da chuva, que surge ilustrada em dois ecrãs dispostos atrás do palco, por onde, mais tarde, viriam a passar figuras do imaginário Teratron. Entre elas, múltiplas chamas verdes, o Professor M e a “bailarina no varão”, que foram acompanhando toda a exibição. Depressa os mesmos jovens inquietos do início corriam para a frente do palco e lá permaneceram até ao fim, inebriados pelo ritmo das músicas que iam sendo interpretadas.

Luzes, som, acção multimédia

O dinamismo na performance é inegável. Sucediam-se nos ecrãs ilustrações semelhantes às da banda desenhada e luzes de diversas cores a intensificar o som já tendencialmente electro. Teratron é diferente do que já se fez no panorama nacional, é um facto. Criaram uma história, musicaram-na, fizeram dela banda desenhada e filme a 3D. Ao vivo, usam e abusam do jogo de cores e velocidades de luzes. Criou-se um autêntico ambiente de discoteca, um tanto intrigante e interessante de presenciar no Teatro Rivoli. Juntando a isto a potência acústica do recinto, o cenário era uma espécie de mega festa apocalíptica.

A permeabilidade entre músicos foi constante. Guitarra, baixo e bateria foram-se adaptando aos músicos que os acompanhavam e vice-versa. Em conjugação com Adolfo Luxúria Canibal, o instrumental teve um tom mais musculado e rock, ao passo que com New Max perdeu qualquer réstia de coloração roqueira e assumiu uma batida hip-hop fundida com o premente electro.

SP não esteve presente em carne e osso. A imagem do músico, que dá voz a temas como “Pista chinesa” e “Serviços Secretos”, foi projectada num painel em tamanho real, a lembrar o conceito de holograma. A intenção deste espectáculo assumir uma dimensão multimédia, porém, não foi totalmente superada. Ainda é necessário ir mais longe. Os recursos poderiam ter sido mais aproveitados. Enquanto a história é narrada em voz off por Miguel Guilherme, os ecrãs exibiam essa mesma narração, o que é desnecessário. Já as imagens que acompanham o espectáculo são muitas vezes repetidas.

História é transformada em disco, filme e banda desenhada

O concerto desenrolou-se na mesma ordem de temas do CD, ou seja dos capítulos da história escrita por Adolfo Luxúria Canibal para os Teratron. “As cobaias” é já o segundo disco de originais dos Teratron e culminou na criação de uma história em banda desenhada e num filme em 3D, cuja antestreia ocorreu no primeiro dia deste mês.

Esta iniciativa com forte componente visual teve como base a ideia de João Nobre e Pedro Quaresma, antigos elementos dos Da Weasel, de musicar uma história. A convite dos próprios, o guião ficou a cargo do vocalista dos Mão Morta. “O convite inicial era, apenas, para escrever a história, a partir de onde diversos vocalistas poderiam desenvolver letras que a contassem”, explica Adolfo, ao JPN.

No final de contas, Adolfo revela que voltou a ser contactado por Nobre para escrever mais letras para o álbum, onde contribui com as três primeiras canções. “As pessoas não se sentiam à vontade para transpor para letras os capítulos que lhes cabiam”, o que levou a algumas desistências, admite o vocalista dos Mão Morta. Para suplantar “alguns problemas de ligação entre as letras que tinham sido feitas relativamente à história”, foi convidado um narrador para a história, o conhecido actor Miguel Guilherme, que não esteve presente no Rivoli, mas que “dirigiu” o espectáculo em voz off.