Tudo recomeçou em 2004. De uma forma natural, alguns elementos dos Ban começaram a ir para a sala de ensaio “sem nenhum objectivo específico”, conta, ao JPN, João Loureiro. A pouco e pouco começou a traçar-se um novo futuro para a banda portuense.

João Loureiro, João Ferraz, Rui Fernandes e Paulo Faro estão de volta para dar uma nova vida a uma das bandas portuguesas mais emblemáticas dos anos 80 e 90. “Mod Girls”, foi o primeiro single de “Dansity”, álbum apresentado no final do ano passado. “Funk It”, o segundo, acabou de ser lançado.

Sobre o tema “Mod Girls”, João Loureiro refere que é uma “homenagem à forma como, hoje em dia, há uma igualdade entre os sexos”. No vídeo surgem várias teenagers a conduzir vespas, uma forma de “recuperar a iconografia Mod, mas adaptada ao século XXI, com a frescura das vespas e das teenagers. “Eu penso que as teenagers portuguesas de hoje são muito mais soltas, muito mais espontâneas, mais vivas do que eram há uns tempos”, justifica o vocalista.

Os veteranos não estão sozinhos, até porque os Ban sempre apostaram na presença de uma voz feminina. Depois de Ana Deus e Emília Santos, chegou agora Mariana Matos, que, com apenas 20 anos, integrou o projecto de forma totalmente inesperada: “A oportunidade surgiu num momento de sorte: fui sair para dançar e, como gosto muito de música, estava a dançar e a cantar as músicas todas… O João (Loureiro) estava com a esposa no mesmo sítio e achou piada ao facto de eu cantar com tanto entusiasmo, com tanta garra.”

Bastou-lhe um teste de voz para ganhar o lugar de vocalista principal dos Ban, e cumprir, assim, um “sonho de miúda”, diz Mariana.

O estigma do regresso e o desejo da internacionalização

Com este regresso, os Ban pretendem voltar a fazer algo de inovador, como explica João Loureiro: “Isto não é um revival. Os Ban vão fazer um disco virado para o futuro. Acredito que as pessoas que estavam muito ligadas ao antigo som dos Ban vão estranhar; quanto às pessoas mais jovens, que não conheciam os Ban, acho que elas vão perceber muito bem este novo disco.”

Para além do desejo de voltar a fazer algo de novo, outra ambição dos Ban é a internacionalização, daí que um marco fundamental do ressurgimento da banda seja um álbum gravado na íntegra em inglês.

Fazendo uma retrospectiva das dificuldades passadas, João Loureiro define este objectivo: “Portugal é um país limitado a todos os níveis e, a dada altura, sentimos que estávamos a bater com a cabeça no tecto. Agora, é tentar que a nossa música chegue a outros países, a outras pessoas.” Daí a escolha da editora Man-u-factor, que produz álbuns em território nacional para depois serem comercializados lá fora.

Um regresso “aos melhores tempos” ou apenas um “foguetório”?

Já Isidro Lisboa, locutor da Rádio Nova e grande conhecedor da música portuguesa, tem uma opinião diferente. “Eu não acredito no ‘’cantar em inglês para conseguir a internacionalização”, salienta. “Há bandas mais discretas, mais marginais que já conseguiram mais do que todas essas bandas que estiveram ligadas a multinacionais com o propósito de conseguir a internacionalização”, considera o programador, que aponta para as novas debilidades da indústria discográfica.

Os regressos devem, por isso, ser feitos com todo o “discernimento”, não se vá “cair no ridículo”. “Não espero nenhum foguetório, nenhum hapenning dos Ban”, conclui.

Junto das lojas de discos mais antigas, a notícia do reaparecimento dos Ban parece ter passado despercebida. “A procura não foi maior do que o habitual. Aparecem pessoas a querer vender discos dos Ban ou a querer comprá-los, mas não com muita regularidade”, afirma André Neves, funcionário da Retroparadise, na Rua do Almada, no Porto.

Rui Quintela, proprietário da Louie Louie na mesma rua, também não verificou uma maior afluência, embora reconheça que a música portuguesa tem muita procura, principalmente em vinil. E à semelhança de Rui Fernandes, funcionário da loja CDGO, diz não ser um apologista de regressos, dando o exemplo dos Táxi como uma boa banda do passado com um regresso desastroso.

Especulações há muitas, dentro e fora dos Ban. “Se eu pudesse ter uma bolinha de cristal…”, brinca Mariana. João Loureiro admite sentir “uma emoção muito positiva em regressar a este mundo, à criatividade”, em retornar “aos melhores tempos” da sua vida.