Mais do que para cumprir um sonho, os Ban surgiram como seguidores de uma filosofia que marcava a música portuguesa dos anos 80.
“Quando começámos não sabíamos cantar, tocar… mas, na altura, qualquer um podia subir a um palco, qualquer um podia fazer música.” As palavras são de João Loureiro que, em finais dos anos 70, esteve no sul de Inglaterra, num curso de Verão de inglês para jovens. Em pouco tempo foi influenciado pelos movimentos musicais anglo-saxónicos emergentes, principalmente o punk e a new wave, e rapidamente percebeu que alguns colegas de liceu partilhavam os mesmos gostos.
Quando se juntaram, em 1981, chamavam-se de Bananas, nome que ia ao encontro do objectivo de fazer ska. Já depois de terem ganho o afamado concurso Rock em Stock/7 Up, e de um contrato com a EMI, a banda reorientou as suas tendências musicais para a cold wave e para o urbano-depressivo e encurtou o nome para Ban.
Depois do fim em 1996:
Os Ban terminaram definitivamente em 1996, com uma última digressão e a edição da compilação “Num Filme Sempre Pop”, mas praticamente todos os elementos apostaram em novos caminhos no mundo da música. Ana Deus fundou os Três Tristes Tigres. João Loureiro, João Ferraz e Rui Fernandes, juntaram-se ao ex-GNR Alexandre Soares, para formarem um projecto musical intitulado The Song Experience, que depois passaria a Zero. O projecto não foi muito duradouro: João Loureiro abandonou a música e João Ferraz continuou a apostar na composição de letras, até à formação de um novo grupo, em 2001, os Magenta. Rui Fernandes e Paulo Faro ainda estiveram juntos nos DR Sax. No entanto, outras actividades profissionais acabaram por se sobrepor.
O maxi-single “Santa”, editado em 1983, parece ter sido a primeira tentativa de uma nova reorientação no estilo musical da banda: o pop e, eventualmente, o pop-rock. Entretanto, Ana Deus integra os Ban e, em 1988, é lançado o primeiro disco da banda, “Surrealizar”.
“Foi um disco de alguma ruptura com o que fazíamos antes e foi, de certa forma, uma ruptura na música portuguesa. Fomos o primeiro grupo a usar caixas de ritmos, samplings, pequenos bocadinhos de rap no meio das músicas…”, defende João Loureiro. A onda pop dos Ban continuou com a edição do segundo álbum, “Música Concreta”, em 1989, e continuou presente na década de 90 com o LP “Mundo de Aventuras— no ano de 1991.
Isidro Lisboa é locutor da Rádio Nova, no Porto, e um grande conhecedor da música portuguesa. Ao recordar a imagem musical dos Ban nos anos 80, reforça a ideia de que os Ban foram uma banda “cheia de inovações” no panorama português.
“Numa prateleira mais pop, são uma banda de destaque dos anos 80. Foi uma tentativa de sucesso dos neo-românticos que começou com bandas da Grã-Bretanha, como os Spandau Ballet ou os Duran Duran. Não era normal haver bandas em Portugal a apanhar este lado mais pop, mais simples, mais despido.”
O contributo da Rádio para o sucesso dos Ban
Para Isidro Lisboa, o facto de os Ban terem aparecido no boom das rádios-pirata e das rádios locais veio dar-lhes “um outro balanço”. “Vivia-se numa onda muito patriótica em que se pensava: se existem coisas boas cá porque não apostar nelas? Não tenho dúvidas algumas que foram das bandas que mais se ouvia nas rádios nessa altura.”
Também a popularidade dos Ban equivalia à de grandes nomes estrangeiros. “Era uma coisa normal para um DJ da altura passar Smiths, Cure, U2 e misturar o maxi dos Ban,”
Ainda assim a banda acabaria por chegar ao seu término. Muito se especulou se a entrada e a saída de Ana Deus dos Ban teria alguma responsabilidade no fim abrupto. A verdade é que a “diva da Invicta”, como lhe chama Isidro Lisboa, saiu para não mais voltar, tendo preferido integrar outros projectos (ver caixa). Para a nova voz feminina dos Ban, Mariana Matos, é uma “responsabilidade muito grande” seguir as pisadas de Ana Deus.
“Indubitavelmente há sempre comparações. E a responsabilidade é acrescida – afinal, já vieram duas pessoas antes de mim. Não sei como é que as pessoas vão reagir a uma voz 20 anos mais nova.”
Isidro Lisboa não tem dúvidas que Ana Deus “foi um dos pilares fundamentais para os Ban terem marcado a década de 80”. Com um sorriso, recorda como a vocalista veio criar um equilíbrio na imagem e na definição da banda. “Os Ban tinham aquela postura muito limpinha, muito ‘british’, sempre de gravatinha, fato, blazer… e depois havia o contraste da Ana Deus, que conseguia uns registos tremendos, uns agudos, umas elevações e também tinha uma presença e uma apresentação em palco imensas.”