Em época de apertar o cinto, resta pouco do orçamento das famílias para o Carnaval. Há quem aposte em disfarces caseiros e mais económicos e quem prefira o aluguer de um fato para a ocasião. Há ainda quem aposte tudo em desfiles e concursos, escolhendo assim a confecção de peças únicas e originais. Tudo é permitido, até porque “no Carnaval, ninguém leva a mal!”.

Com oito anos, Gonçalo quer ir disfarçado de Robin dos Bosques. “No ano passado fui de pirata, este ano quero defender os pobres, como vejo na televisão! Já avisei a minha mamã.” A tarefa torna-se complicada para a mãe, que tem de satisfazer a vontade do filho mais novo e ao mesmo tempo gastar o mínimo possível. “Actualmente tudo o que se puder poupar é essencial, não está fácil para ninguém.” Optou por alugar um fato, fica mais económico e sabe que o filho não vai voltar a usar o disfarce.

Mãe e filho escolhem o modelo no catálogo de uma loja da baixa do Porto. A responsável da loja admite que, hoje em dia, apenas os disfarces para crianças têm saída. Com fatos a irem dos 15 aos 100 euros, os preços já não competem com outras lojas de venda. “Comprar ou alugar um fato para o Carnaval fica pelo mesmo preço, claro que as pessoas preferem comprar e ficar com ele para um dia mais tarde voltar a usar”.

Na loja, pouco movimentada, apenas existem alguns disfarces pendurados. “Aqui é só por encomenda. Dá-me prejuízo tê-los aqui, a ganhar pó”, afirma a dona, acrescentando que este ano “não há um fato a vender mais do que os outros, como houve há alguns anos com o Noddy”. Já os super-heróis e as princesas “estão sempre na ordem do dia”.

Para os mais graúdos, a solução passa por comprar o disfarce. Este ano as preferências de Joana e Sofia, ambas de 17 anos, recaem para duas joaninhas. “É dos disfarces mais baratos, a mesada não chega para tudo. Mas há aqui fatos fantásticos, a preços a que não nos podemos permitir.”

O lojista explica que os disfarces mais baratos são os mais procurados. Abelhas, joaninhas e espanholas, mas não só: os desfiles de Carnaval vão sempre de encontro à sátira política e social e “aos maiores sucessos de cinema. Este ano, os fatos de bailarina e de avatar foram muito vendidos.”

Já Marta decidiu comprar apenas um chapéu de cowboy para o irmão de 5 anos, “o resto arranja-se por casa”. A crise económica obriga a tal e Marta não escapa à tendência: “Vou ver se arranjo umas roupas velhas, umas leggings vermelhas, fita no cabelo e óculos de sol. E já estou pronta! Disfarçada de quê? Anos 80!”.

Originalidade por medida

Para quem pode dispensar mais alguns trocos, os fatos feitos por medida são “únicos”, como afirma Lurdes Ribeiro, lojista da Feira dos Tecidos, na rua de Cedofeita. “Um disfarce já confeccionado até pode ser mais barato, mas é igual a tantos outros. Todas as lojas, todas as revistas trazem a mesma coisa.” A loja pede todos os anos tecidos de propósito para o Carnaval, que têm muita saída para desfiles ou marchas, mas também para particulares. “As pessoas que vêem cá procuram algo invulgar, nunca feito.”

Clara, cliente da loja, participa todos os anos em concursos de Carnaval e procura sempre distinguir-se pela originalidade. “Venho aqui comprar os tecidos e levo-os a uma costureira. Fica-me mais caro do que comprar um fato noutra loja, mas vale sempre a pena.”

Os fatos caseiros continuam a ser a aposta mais económica para este dia. Um lençol com dois buracos e já se é fantasma, uma saia comprida e uma pandeireta e já se é cigana. Na Internet não faltam sites e blogues com ideias de confecção de fatos, acessórios e outros afins. Basta ter imaginação e boa disposição para passar o Carnaval.