As fotografias pertencem a Nelson Garrido, fotojornalista do jornal “Público”. As histórias que as imagens contam pertencem a vários emigrantes africanos que arriscam as suas vidas em pequenos barcos para chegar a um único destino: a Europa. Partem quase sempre da Mauritânia e perseguem o objectivo de alcançar melhores condições de vida. Muitos nunca o chegam a conseguir: as histórias dividem-se entre casos de clandestinidade e morte durante as viagens.

O JPN visitou a exposição de fotografias de Nelson Garrido e ouviu dele os pormenores que cada imagem conta sobre o êxodo ilegal.

Como tem que haver um início para tudo, a foto que Garrido elegeu para começar a partilhar a sua experiência é aquela que representa o fim da exposição. Com direito a uma divisão particular, também ela tem uma origem peculiar: “curiosamente, foi captada no início da nossa reportagem”.

As fotografias estão espalhadas pelas paredes de quatro salas, mas em duas delas ouvem-se sons característicos, que servem para “dar continuidade” às sequências de imagens, e aproximar o público da “sensação do que é esta realidade”, refere o fotojornalista.

Contudo, quem esteve mesmo próximo dessa realidade foi Garrido, que relembra a fotografia de uma piroga (pequeno barco usado pelos emigrantes para viajar) para explicar o perigo inerente a cada travessia dos emigrantes. “Correu tudo bem durante toda a reportagem, mas quando embarquei nesta piroga achei que ou não voltava eu, ou não voltava o material.”

Quem muitas vezes não volta são os emigrantes. Por um lado, os que têm a sorte de sobreviver às viagens e não são repatriados e, por outro, aqueles que acabam por morrer nas perigosas travessias marítimas entre África e Europa. Nelson Garrido conta que “uma das razões para a morte dos clandestinos é o facto de muitos deles não saberem nadar”.

Mas a viagem à Mauritânia também infligiu baixas na equipa do fotojornalista do “Público”: “uma das minhas máquinas morreu lá”. Ainda assim, uma sobreviveu e se ela pudesse falar “contaria histórias muito problemáticas, de pessoas que já fizeram as travessias, e que revelam as más condições por que passam, como a falta de água e comida durante muitos dias de viagem em condições sub-humanas”.

Toda esta realidade pode ser vista nas fotografias de Nelson Garrido, expostas no Palácio das Artes até 23 de Março, de segunda a sexta, das 10h00 às 19h00, com entrada livre.