Há dois meses que Armando Silva percorre diariamente a Rua de Santa Catarina, no Porto, a publicitar a compra de ourivesaria usada com duas placas “a tira colo”. O constante aumento de lojas com licença para comprar ouro usado exige novas formas de publicitar, num ramo cada vez mais sobrecarregado. A “publicidade ambulante” pretende “chamar a atenção pela sua excentricidade” explica Amélia Brandão, Professora de Marketing da Universidade do Porto.
Inês de Brito Viana, colaboradora da empresa de eventos culturais e empresariais No More, explica que a “publicidade ambulante” desperta a curiosidade do público, permite que “fixe uma identidade”. Mas não disponibiliza “muita informação sobre o produto ou serviço”, esclarece. As duas placas de publicidade de Armando indicam apenas que compra ourivesaria usada e o endereço do estabelecimento. “Muitas pessoas olham para mim, perguntam-me como está a grama do ouro e eu encaminho-as para a loja”, conta Armando.
Amélia Brandão considera que por ser “um meio mais revolucionário, mais radical” não é tão recorrente em Portugal. “Acaba por haver algum tipo de desconfiança relativamente a este impacto,” explica. A Professora Universitária salienta que o mercado brasileiro é mais receptivo e adianta que a revisão da literatura sobre esta técnica publicitária considera-a “bastante exuberante”, que pode levar ao “efeito inverso”.
Inês de Brito Viana concorda. A “publicidade ambulante” pode ser uma técnica “perigosa”. Exige “uma sensibilidade especial” já que “pode facilmente cair no ridículo, se não for usada no contexto certo”, esclarece. Neste sentido, é uma técnica mais eficaz quando dirigida para o público infantil, considera Amélia Brandão.
De segunda a sábado, por um ordenado mínimo, Armando “passeia”, das 7h30 às 18h30, as placas de publicidade. “Anda-se com as placas, vê-se as pessoas, fala-se disto, fala-se daquilo e vai-se passando assim o tempo” conta. “Subo e desço muitas vezes Santa Catarina, como o elevador do Bom Jesus, ironiza. “As placas não são pesadas mas é cansativo”, desabafa, “ando para trás e para a frente, para trás e para a frente e ao fim do dia sente-se nos pés…ao fim do dia sinto-me cansado”.
O desemprego, que afecta mais de 600 mil portugueses, levou Armando à “publicidade ambulante”. “Precisava de ganhar algum para pelo menos sobreviver”, explica, “hoje não tenho outra hipótese”. Trabalhava como segurança privado e o peso da idade neste ramo é peremptório. “Com 59 anos, já não me aceitam”, comenta. Mas este trabalho também não é seguro. Armando está a substituir um colega que foi hospitalizado. Mais dia, menos dia, tem de voltar a procurar emprego, como a sua esposa procura diariamente.