Nunca como hoje o sector cultural esteve tanto no centro da observação por parte da sociedade. A opinião é de Jorge Cerveira Pinto, em conferência sobre as questões financeiras da elaboração do sector cultural, esta terça-feira, nas instalações do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

Para o gestor cultural, o Estado está a retirar-se da função de regulador deste sector, papel que cabe cada vez mais às empresas. Num museu, por exemplo, é comum observar-se que os serviços mínimos de funcionamento são assegurados por empresas e não pelo Estado.

Perfil

Director-geral da agência INOVA desde 2007, Jorge Cerveira Pinto desempenha também funções de consultor externo da Comissão Europeia e desenvolve trabalho como consultor de várias instituições nacionais e internacionais. É membro da Associação Portuguesa de Marketing e de muitas outras associações internacionais, auditor do Curso de Defesa Nacional e, ainda, presidente da Direcção da Associação Fórum Portucalense.

Jorge Cerveira Pinto referiu que o sector cultural e criativo atravessa dificuldades financeiras. Apesar das ideias para novos projectos, ainda existem necessidades que deviam ter sido supridas há anos atrás. “É o sector mais ingrato de todos”, afirma o gestor cultural, pois o salário médio esperado é significativamente mais baixo que nos outros sectores. No entanto, a cultura oferece outro tipo de satisfação aos seus profissionais, difícil de encontrar nos outros sectores.

Actualmente, o financiamento do sector baseia-se numa autonomia de criação, em que 33% surge do auto-financiamento, 33% é financiamento público e a restante percentagem provém de financiamento privado. Apesar de os orçamentos para a cultura estarem a crescer desde o 25 de Abril, o ministério da Cultura absorve 75% deste orçamento total. Afirma, ainda, que a grande maioria dos apoios conseguidos na cultura vêm de outros sectores ligados ao projecto em questão.

Outro problema deste sector é o facto de existir um conjunto de pessoas que ganham muito dinheiro, enquanto os restantes são muito mal remunerados. “É um dos problemas que o Estado ainda não conseguiu resolver”, afirma o gestor cultural. É de salientar, ainda, o problema da produtividade da cultura: os custos tornam-se cada vez maiores, mas a produtividade sobe muito lentamente.

O gestor cultural esclarece, ainda, a função intrínseca à sua profissão, tendo o papel de garantir que os artistas têm as condições necessárias para materializar os seus projectos. “É muito difícil encontrar um excelente artista que seja um excelente gestor e um excelente gestor que seja um excelente artista”, diz.