Como vê a arquitectura em Portugal?

Aconselho os jovens arquitectos a emigrar porque não vejo perspectivas de trabalho em Portugal. Há arquitectos a mais e, com o número de licenciados que vão saindo, as portas começam a fechar-se. Sendo realista e dando um conselho, aqui não vai ser possível fazer Arquitectura. Há muitos países que precisam de arquitectos, como o Brasil e a Suíça.

Algumas das suas obras da cidade do Porto estão em degradação. Como é ver as suas obras assim?

A Casa das Artes e a Casa Cinema de Manoel de Oliveira são as que se encontram em pior estado. Para mim, é uma tristeza. E é triste, também, para este país, que brinca com o dinheiro. A Casa das Artes pode ser perfeitamente adaptada a uma cinemateca. Não a uma cinemateca casa-mãe, mas a uma delegação. O edifício precisa de algumas intervenções e rectificações. Penso que deve funcionar com o orçamento que está destacado.

A Casa das Artes poderia ser algo mais para além de cinamateca?

A Casa das Artes tem uma grande polivalência, mas não quero que se faça nada mais para além da cinemateca. Quero que se faça pouco e bom. Já chegam as dificuldades que existem para fazer dela uma sala de cinema.

Como é receber um prémio como o Pritzker?

Este é o melhor momento de toda a minha carreira. Trata-se de um reconhecimento de trinta anos de trabalho. É pensar no futuro e dizer: agora como vai ser?. É muita pressão e muita responsabilidade, o que me preocupa. É muito gratificante para mim; para aqueles que trabalham comigo; para a arquitectura portuguesa e até para Portugal. Estamos num período pessimista e de grande crise. Os portugueses vêem este prémio como algo muito bom para o nosso país.

Depois de um prémio como este, o que lhe falta fazer?

Falta, sobretudo, terminar as obras que tenho pendentes, o que não é fácil. É preciso continuar a projectar da mesma maneira e melhor.

Como foi trabalhar com o primeiro prémio Pritzker em Portugal, Siza Vieira?

O Álvaro Siza é um grande professor, um mestre e uma grande referência, não só a nível arquitectónico, mas também como pessoa.

Actualmente é professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Qual a mensagem que passa aos futuros arquitectos?

Não digo que tipo de Arquitectura gosto e o que eles têm que ter. Ensino por experiência própria quais são os instrumentos que eles necessitam para resolver os problemas da Arquitectura. O papel de um professor é explicar aquilo em que acredita e fornecer a bússola para depois eles se poderem dirigir. O professor não é mais nada que um orientador de bússolas.

Porquê a Arquitectura?

Sou arquitecto por ter escolhido a alínea H. Na altura, não sabia o que queria ser no futuro. Escolhi a alínea H que era a minha disciplina favorita, Arquitectura. Apesar de os meus pais terem insistido para que eu fosse engenheiro, contei com o apoio do meu irmão que, inicialmente, queria ser arquitecto, mas não conseguiu. Como não me apetecia muito ser engenheiro, escolhi a Arquitectura.

Qual é a sua obra de eleição?

O Estádio de Braga deve ser a minha obra mais completa. É completa do ponto de vista de intervenção paisagista, de coerência de linguagem, do sistema construtivo e de material. O desenho de pormenor e o rigor também fazem do Estádio do Braga o meu favorito. Toquei em todas as teclas necessárias, em todos os pontos arquitectónicos.

É uma inspiração para os portugueses?

Quando ando de automóvel por Portugal vejo muitas coisas influenciadas por mim. É bom ver que a minha obra tem repercussões. Por outro lado, às vezes fico triste quando vejo coisas mal feitas e vejo que as pessoas não entenderam o que eu queria.