“Grandes Debates do Regime” é o nome do ciclo de conferências promovido pela Câmara Municipal do Porto. A primeira conferência, que aconteceu na última sexta-feira, na Biblioteca Almeida Garrett, teve como tema “Democracia No Século XXI: Que Hierarquia De Valores?” e contou com a presença de Mário Soares e Diogo Freitas do Amaral. Com Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto a cumprir o seu último mandato, a moderar o debate, discutiram-se temas como a actual situação política e económica de Portugal e a participação do país na Zona Euro.

Mário Soares, ex-Presidente da República e antigo primeiro-ministro, disse, durante a sessão, que perante um governo demissionário “não havia outro caminho senão as eleições”. O que mais preocupa Mário Soares é que o país fique “paralisado por vários meses, não só até às eleições”. Outra das preocupações que demonstrou é que os “os partidos continuem a degladiar-se sobre quem teve as culpas” da crise que o país atravessa e, por isso, apelou para que se evitem os “conflitos interpartidários”. O ex-Presidente da República afirmou ainda que, para combater a crise, “não basta resolver os problemas financeiros”, é necessário “manter políticas sociais”.

“Importada” e “global” foram as palavras usadas por Mário Soares para descrever a crise que o país atravessa. Para o ex-Presidente da República, a solução passa por “controlar os mercados especulativos”. “A prioridade das prioridades” deveria ser, para o socialista, “diminuir o desemprego”.

Perante uma plateia preenchida, Mário Soares revelou não ter “muito medo do Fundo Monetário Internacional” até porque, quando foi primeiro-ministro, enfrentou duas crises, viu-se obrigado a “chamar o FMI e o país foi capaz de resolver os seus problemas”.

“Todos são responsáveis” pela crise que Portugal atravessa

Diogo Freitas do Amaral, um dos fundadores do CDS-PP e ex-ministro, disse que se criou um “fantasma” em torno do pedido de ajuda externa. O que, na sua opinião, não faz sentido, até porque “o fundador e primeiro secretário-geral do PS recorreu duas vezes ao FMI e não foi nenhuma indignidade e salvou o país por duas vezes da bancarrota”, rematou.

Freitas do Amaral referiu que em Portugal existe um “excesso de individamento do Estado, da Banca, das famílias” e que, por isso, “todos são responsáveis” pela difícil situação que o país atravessa.

Durante o debate, onde houve ainda lugar para a participação do público, também se fizeram duras críticas à Europa e à líder alemã, Angela Merkel. Mário Soares disse mesmo que a “Europa abandonou completamente os princípios europeus”, referindo-se a Merkel e a Sarkozy.

Na opinião de Freitas do Amaral, “o que é preciso é reforçar a Zona Euro e que a Alemanha decida se quer ser da Zona Euro”, assumindo se está, ou não, “disposta a pagar o preço por ser a sua principal beneficiária”. “Eu não aceito calado que a senhora Merkel dê ordens a Portugal, ou a qualquer outro país, como se fosse a senhora da quinta”, apontou Freitas do Amaral. “Quando alguém surgir e disser basta, ela pára”, continuou.

Diogo Freitas do Amaral admitiu que Portugal tem problemas “em todos os sectores” e que seria importante apostar na agricultura, na indústria e nas exportações, assim como aproveitar o território florestal. Referiu, ainda, que “é indispensável que Portugal passe a controlar mais de perto a electricidade e os produtos derivados do petróleo”, para conseguir fazer face às subidas e descidas do preço do petróleo.

A próxima conferência do ciclo “Grandes Debates do Regime” acontece a 5 de Maio e terá como tema central “O Estado do Regime”.