Numa jornada em que o pódio da Liga ZON Sagres conheceu um novo “inquilino” ( o Braga que, depois de ter ganho ao Beira-Mar por 2 – 1, viu o Sporting empatar em Guimarães a um golo e ser relegado para quarto lugar), foi para o que se passava na 2ª Circular que se viraram todas as atenções.

Quem não conhecesse quer a realidade desportiva portuguesa, quer a rivalidade entre Benfica e FC Porto e virasse para um qualquer canal de informação poucas horas antes do início da partida entre “águias” e “dragões”, pensaria que uma qualquer “guerra civil” estaria a ter lugar na capital portuguesa. Pedras nas mãos de adeptos benfiquistas e polícia de shotgun empenhada eram apenas duas das várias imagens que se assemelhavam a uma “guerra”.

A razão para todas esta incidências era muito simples: o FC Porto ia ao território “inimigo” para tentar conquistar o título de campeão que pertencia aos “encarnados”. Tamanha “ousadia” que os adeptos do Benfica não toleravam e que também dentro do recinto do estádio faziam questão de o demonstrar. Com poucos segundos de jogo o FC Porto ganhava um canto, mas João Moutinho, escolhido para bater a bola parada, ao aproximar-se da bandeirola via cair uma “chuva” de artefactos arremessados das bancadas e que colocavam em causa a sua integridade física.

Moutinho era apenas um dos onze azuis-e-brancos que subiram ao relvado da Luz para lutar pela vitória portista. Além dele, André Villas-Boas colocava em jogo outros dez que formavam a equipa mais forte do Porto nos últimos jogos: Helton, Fucile, Rolando, Álvaro Pereira, Fernando, Guarín, Varela, Hulk e Falcao. Do lado benfiquista, Jorge Jesus trazia uma equipa algo modificada por causa de indisponibilidades físicas de alguns jogadores: Airton surgiu no lugar de Maxi à direita da defesa e Jara ocupava o lugar de Cardozo, que estava no banco por não se encontrar a 100%. Os restantes eram Roberto, Luisão, Sidnei, Coentrão, Javi Garcia, Salvio, Gaitán, Aimar e Saviola.

Chama do dragão iluminou a apagada Luz

O FC Porto entrou com “chama” na partida. Muito tranquilo nos minutos iniciais, com trocas de bola seguras, mostrou que a recordação da derrota na Taça de Portugal já era passado. Tanto foi assim que, aos oito minutos de jogo, Freddy Guarín fez o golo para os portistas. Ao entrar na grande-área adversária, deixou Luisão para trás e, de ângulo muito fechado, rematou forte em direcção a Roberto que, mais uma vez, ficou mal na “fotografia”: 1 – 0.

Não durou muito a tranquilidade do Porto no jogo, já que aos 15 minutos Duarte Gomes assinalava uma grande penalidade a Otamendi. Chamado a converter, Saviola não desperdiçou e voltava a colocar as garrafas de champanhe no frigorífico: 1 – 1. Com tudo isto, o Benfica aproveitava para assentar o seu jogo e acalmar os “dragões”. Mas o “sedativo” foi breve em efeito, pois aos 25 minutos já Roberto tinha derrubado Falcão dentro da área, Duarte Gomes assinalado penálti e Hulk virado o marcador a favor do Porto: 2 – 1. Até ao fim da primeira parte, tempo ainda para Saviola rematar à figura de Helton e Guarín testar a “bomba” de bem longe.

Com a segunda parte e a mudança de campo, também mudaram alguns dos protagonistas: Peixoto e Cardozo entravam para as saídas de Aimar e Jara. Mas foi o Porto que continuou com o sinal mais, ao ver Falcão rematar com perigo aos 46 minutos. Saviola respondeu passados três minutos para uma grande defesa de Helton. Volvidos dez minutos, Falcao voltava à carga, agora isolado depois de ganhar uma bola a Sidnei, mas rematava para fora. O resultado permanecia na mesma, mas o título estava mais perto. Faltava meia-hora.

Aos 67 minutos, Javi Garcia, numa disputa de bola com Varela, pontapeava o extremo portista, mas não recebia nada mais do que um amarelo. Tratamento diferente teve Otamendi passados dois minutos, ao ser sancionado com o segundo amarelo e consequente vermelho num lance com Cardozo. Até aí, o central argentino estava insuperável. Com menos um, Villas-Boas fazia entrar Maicon e Belluschi. Foi mesmo o argentino a ser agredido por Cardozo que, aos 86 minutos, foi expulso e igualou o número de jogadores em campo. Destaque para o minuto 91, em que o Benfica atirou uma bola ao poste capaz de estragar a festa aos “dragões. O apito final chegou depois, com o FC Porto a vencer a “guerra” do título e a festejar num Estádio da Luz de luz apagada.

Aliados na festa

O jogo de futebol podia ter acabado quando Duarte Gomes apitou pela última vez no Estádio da Luz, mas os festejos do título tinham acabado de começar. A maioria dos adeptos portistas, localizados a norte, aproveitaram a Avenida dos Aliados e os seus monumentos para darem largas à euforia.

Jovens, velhos, homens e mulheres “aliavam-se” nos festejos que tinham duas coisas em comum: o amor à camisola azul-e-branca e a grande rivalidade ao clube benfiquista. No final de contas, tudo servia para celebrar a conquista de mais um campeonato para o Porto.