O Centro Português de Fotografia abre as portas para receber a exposição “Survivors” de GMB Akash, um dos oradores da edição deste ano do TEDx Porto. O trabalho do fotógrafo é um retrato da luta pela sobrevivência na Ásia Meridional.

Nos últimos 5 anos, Akash dedicou-se a captar imagens de pessoas que vivem no limiar da pobreza ou em situações de risco, sobretudo no Bangladesh, o seu país de origem. As suas fotografias, que já fizeram capa de revistas como a “Time” e a “Newsweek”, estão em exposição no Centro Português de Fotografia, no Porto, até 9 de Abril.

Qual a importância da fotografia na luta contra a discriminação?

Eu podia escrever mil palavras para ilustrar o sofrimento de uma criança que vê o seu futuro com apenas um dólar, mas um retrato exacto dos arranhões da cara é suficiente para contar a sua história sem dizer uma única palavra. É este o poder da fotografia: pode fazer eco dentro de um único olhar. Quando se nasce num país pobre, é necessário ter uma habilidade natural para enfrentar as adversidades e lutar contra a resignação. Como fotojornalista, sinto que o meu dever é fazer com que a crueldade da natureza toque o coração das pessoas e desperte consciências.

Porquê fotografar pessoas em sofrimento?

Sinto que devo mostrar o invisível e focar as trevas que normalmente os nossos olhos se recusam a ver. Durante a minha carreira, fotografei trabalho infantil, alterações climáticas, sem-abrigo… Resumindo numa palavra, sobreviventes. Por exemplo, no Bangladesh, um dos meus focos são as prostitutas: mulheres sem rosto, vendidas pelos maridos, pelos namorados ou pelos próprios pais. A minha função é conhecer os seus medos, tentar ser um deles e contar as suas histórias, para que o Mundo deixe de ser cego e surdo.

Como é a vida no Bangladesh?

A vida aqui é dividida em duas rotas: uma para os privilegiados, a outra para os pobres. No Bangladesh, há pessoas que vivem apenas com um dólar e lutam diariamente pela sobrevivência. Sinto um vazio de cada vez que penso no sofrimento do meu país e vou continuar a fotografar cada pessoa em sofrimento através da minha lente, para mostrar ao Mundo estas histórias ignoradas.

Sendo um país com tantos problemas sociais e económicos, por que é que nunca quis sair do Bangladesh?

O Bangladesh é a minha alma. Sou um viajante eterno e estou constantemente à procura de novos lugares para visitar mas, no fim, volto sempre à minha terra. Até ao meu último suspiro, vou pertencer inteiramente ao meu país.

A que é que atribui os prémios que ganhou?

O reconhecimento é sempre uma grande inspiração, os prémios motivam-me para seguir em frente. Mas o meu prémio principal é quando faço chegar às pessoas as histórias que quero contar e abro um caminho para trazer mudanças positivas ao destino das pessoas.

O que achou da receptividade dos portugueses a esta exposição?

Foi incrível. Tenho saudades do Porto. O lugar é diferente, a linguagem é diferente, o clima é diferente, mas adorei. Normalmente, quando viajo, sinto muito a falta do meu país, mas desta vez senti-me em casa.