A Universidade do Minho está a realizar um estudo intitulado “Mulheres nas Ciências, Engenharias e Tecnologias: o efeito do ‘oleoduto que pinga'”. Uma das principais conclusões do projecto, que teve início em Setembro de 2009 e tem final previsto para Agosto deste ano, é que a área das engenharias e ciências continuam a ser muito associadas aos homens.

O projecto realiza-se através de um conjunto de entrevistas feitas a “pessoas de diferentes idades e níveis de escolaridade”, afirma Luísa Saavedra, coordenadora da iniciativa, ao JPN. Por esse motivo, as conclusões conhecidas agora são muitas e variadas. Relativamente ao nono ano e Ensino Secundário, a professora diz que um dos motivos que influencia a escolha, ou não, destas áreas pelas jovens alunas se prende com o “apoio dos pais” e, inclusivé, “de familiares que já trabalham nessas áreas”.

No caso de algumas estudantes “indecisas”, verificaram-se “muitos estereótipos, nomeadamente, por parte dos pais, que acham que são cursos para homens e as desaconselham a ir”, refere. “Nestas idades, o apoio dos pais é muito importante”, não só como orientação, mas também porque as jovens “precisam deles economicamente”, acrescenta.

Ainda ao nível das alunas mais novas que integram o projecto, é “interessante” verificar que algumas delas “já têm consciência das discriminações de que as mulheres são alvo no mercado de trabalho nestas áreas”.

Já no que diz respeito às estudantes universitárias, o estudo revela que estas “têm algumas atitudes defensivas face ao mercado de trabalho”. Luísa Saavedra refere que “algumas reconhecem que têm receio de ter dificuldades” no mundo laboral. As jovens “evitam pensar no mercado de trabalho que se aproxima de uma forma negativa, talvez por defesa e para lhes dar coragem para ir em frente”, diz.

Solução pode passar por imposição de quotas

Quando se fala de mulheres que já estão a trabalhar, as dificuldades que enumeram prendem-se com “assédio sexual, discriminação nos salários, dificuldade em ocupar posições de liderança e discriminação nos concursos para lugares de trabalho”. No entanto, nem todas sentem as mesmas dificuldades, admite a responsável pelo projecto. A descriminação sente-se, sobretudo, na diferença de salários, e vêm, sobretudo, da parte dos homens, o que as faz sentir “necessidade de provarem capacidades”, diz a professora da Universidade do Minho.

Outra das conclusões do estudo refere-se à diminuição do número de mulheres à medida que se avança na escolaridade. O mesmo acontece quando já estão integradas no mercado de trabalho, seja no “início da carreira”, ou, quando “percebem que não conseguem chegar aos lugares de topo”, entende Luísa Saavedra.

As ciências e as engenharias são áreas numericamente “dominadas por homens”, pelo que “são eles que tomam as decisões”, havendo, ainda, “uma certa cumplicidade entre eles”. A professora diz que as mulheres dificilmente conseguem chegar ao mesmo patamar, só se “forem excepcionais e for quase impossível evitar reconhecer essa qualidade”.

Apesar das leis serem “muito favoráveis” e “progressistas em todas as áreas do género e da igualdade entre homens e mulheres”, na prática, as coisas não acontecem dessa maneira e “arranjam-se formas” de contornar as leis. Para dar a volta a estas situações, a professora da Universidade do Minho entende que “impôr quotas para estas áreas” pode ser uma das soluções.