Privatizar. Este verbo de dez letras, que significa passar uma empresa pública para a gestão privada, tem dado que falar nos últimos tempos. E, com eleições à porta e os problemas económicos de Portugal a adensarem-se, o principal partido da Oposição, o PSD, apresenta-se como um dos mais fortes defensores desta medida financeira. Mas será este o caminho mais indicado para o país, numa altura em que o Estado precisa de verbas para pagar as dívidas?

A TAP será a primeira a seguir o caminho da privatização, mas, segundo as propostas apresentadas pelo PSD [PDF], esta não deveria ser a única empresa estatal a passar para as mãos de privados. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), os transportes públicos da CP e REFER e a Águas de Portugal são, para Passos Coelho, os próximos na lista de privatizações, embora parciais. No caso dos transportes públicos, o PSD prevê uma remodelação, abrindo ao capital privado a CP e a REFER. Tal destino teria, igualmente, a Águas de Portugal, retomando uma antiga ideia do governo de Durão Barroso.

Numa entrevista à Reuters, o líder do PSD explica que, no caso da CGD, uma parte do capital deve ser dispersado com a emissão de acções junto de pequenos aforradores. Mesmo assim, entende Passos Coelho, o Estado deve manter uma posição maioritária. Esta estratégia já foi utilizada na Galp, mas não teve os efeitos desejados. A CGD teria, também, de sofrer uma reforma que implicasse a saída do banco da área seguradora e da saúde, em particular dos Hospitais Privados de Portugal.

Quem não concorda com Passos Coelho é o economista Eugénio Rosa, que acredita que, se a instituição “passasse para as mãos do privado”, Portugal teria mais problemas financeiros do que vantagens. Tal deve-se ao facto do banco ser “o único instrumento que, efectivamente, está a aumentar o crédito”, financiando a economia portuguesa. Por isso mesmo, o caso da CGD é, para Eugénio Rosa, “extremamente grave”.

Aliás, para o economista, as privatizações não são mesmo uma boa solução, pois têm algum efeito na economia, mas os resultados desse efeito são sempre temporários. “Vendem-se os anéis, depois não temos nada”, declara. O problema do défice, diz Eugénio Rosa, só se resolve com o crescimento da economia.

Se avançarmos com privatizações, e tendo em conta experiências passadas na economia portuguesa, a “balança de rendimentos” ficaria “cada vez mais negativa”, pois as empresas cairíam “em mãos estrangeiras”.