Um grupo de investigadores do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) recebeu o prémio “ACS-MERCK SERONO” em Epidemiologia do Cancro. O trabalho vencedor, “Irradiação por Tinea capitis e risco de cancro”, tem por objectivo avaliar a prevalência de doenças tumorais na zona da cabeça e pescoço, num grupo de portugueses irradiados na infância para tratamento da doença.

Isabel Boaventura, da equipa de investigação, considera este reconhecimento importante, dado que o prémio, no valor de 70 mil euros, “é um apoio financeiro para poder fazer outro tipo de estudos”, mas também para continuar com este. Para além disso, vai ser possível fazer estudos “importantes na área dos possíveis efeitos biológicos da radiação que foi recebida” e tentar prolongar a parte de saúde pública, como a observação de mais pessoas.

O estudo que deu o prémio aos investigadores do IPATIMUP menciona uma doença, “Tinea capitis”, também conhecida por “tinha”, causada por um fungo, mais facilmente transmitido a crianças, que teve grande propagação nas décadas de 50 e 60 do século XX. Este fungo é transmitido através de contacto, não só directo, mas também de partilha de objectos.

No tratamento da doença era aplicada uma pomada feita de enxofre e tintura de iodo. Como o cabelo atrapalhava o tratamento, decidiu-se provocar a sua queda, através dos raios x. Isabel Boaventura, uma das investigadoras neste estudo, explica ao JPN que, em estudos feitos anteriormente, se verificou que havia “maior prevalência de doenças na zona da cabeça e do pescoço” nos indivíduos a quem foi aplicado o tratamento e que, por isso, se resolveu fazer o mesmo em Portugal.

Segundo Paula Boaventura, através deste estudo, foi possível informar as pessoas de algum tipo de sequela eventualmente causada pelo tratamento por raios x e “fazer um despiste, com observação clínica, solicitando gratuitamente uma ecografia cervical e, também, um exame do cálcio”. Para a investigadora, este estudo é muito importante, dado que podem acompanhar pessoas que “experimentaram na infância um tratamento que lhes pode ter deixado algum tipo de efeito secundário, nunca valorizado”.

Este projecto pretende que se melhore a qualidade de vida dos doentes que foram sujeitos às radiações para o tratamento da doença e que, quase na totalidade, desconheciam o tipo de tratamento que receberam.

“Queremos continuar o estudo do aspecto genético e de algum material biológico que temos obtido das pessoas”, refere Isabel Boaventura. No futuro, o IPATIMUP pode eventualmente “tentar pesquisar outro tipo de patologias não directamente relacionadas com o cancro”.