Comprar livros em alfarrabistas, que disponibilizam os exemplares a um preço muito reduzido, torna-se uma opção muito atractiva para os consumidores. Mas este é um negócio também muito rentável para quem edita e vende os livros. O JPN foi perceber a opinião de dois alfarrabistas e de uma editora sobre o mercado de literatura a baixo custo.

Ambos os alfarrabistas visitados lamentam que o número de jovens a visitar as lojas não seja maior. Nuno Cadavez, da Livraria Académica, diz que “há uma grande quantidade de jovens a frequentar os cursos universitários” mas que, apesar disso, “a vinda a estas casas de livros mais baratos é relativamente pequena”. Cláudia Ribeiro, da Livraria Lumière, nota que os jovens gostariam de comprar mais livros, “mas não têm possibilidades económicas” para tal. Para contornar este problema, a alfarrabista confessa que costuma fazer “descontos” aos clientes mais novos, o que constitui um incentivo “à leitura e à compra de livros”.

Os preços nestas lojas costumam ser acessíveis. “Na literatura corrente, há livros desde os quatro ou cinco euros até aos 20 euros”, afirma Nuno Cadavez. No entanto, e como nas outras livrarias, também há “preços muito mais elevados”, acrescenta.

As diferenças entre comprar um livro novo numa livraria dita “normal” e em alfarrabistas dizem respeito, sobretudo, ao preço, que “é, sensivelmente, metade” nestas últimas, refere Cláudia Ribeiro. No entanto, o estado dos livros também “é bastante bom”, até porque são muito “criteriosos no estado de conservação do livro” que disponibilizam, acrescenta a alfarrabista. Também a quantidade e diversidade dos livros constitui um dos pontos fortes deste tipo de lojas.

Claúdia Ribeiro refere que, na Livraria Lumière, é dada “preferência a determinadas áreas”, como “a literatura portuguesa, a história, a filosofia, o teatro, a etnografia”, mas os livros disponibilizados abrangem “quase todas as áreas do conhecimento”.

“O e-book e o livro físico vão ter lugar no futuro”

A Rés – Editora, Livraria & Cultura não edita livros em formato de bolso. A maioria dos seus livros “são em versão A5”, um “formato intermédio entre os livros maiores e os livros de bolso”, refere João Nuno Marinho, responsável pela Rés. Apesar de a editora não publicar os seus livros em formato “pocket”, João Marinho considera que é “uma boa solução”, especialmente para quem viaja no metro ou usa o livro como “leitura no transporte público”.

O responsável pela Rés explica que o livro de bolso não se torna mais barato pelo seu formato mais pequeno mas porque, “normalmente, só se faz a edição do livro de bolso depois de a edição do livro normal”, o que significa que “uma parte dos custos já estão completamente amortizados”.

Em relação ao aparecimento do e-book, João Nuno Marinho diz que o livro passa a ter um “formato diferente”, mas é um livro na mesma, com um valor, “colocado à venda numa loja que, em vez de ser uma loja física, é uma loja online”. A alteração é essencialmente essa: “o livro, em vez de ter um corpo físico, passa a ter um corpo virtual”.

O responsável pela editora e livraria Rés afirma uma uma das principais vantagens deste negócio online é que, “ao contrário do mercado da música, em que para se ouvir uma música sempre foi preciso um suporte físico qualquer complementar à música”, no mercado do livro
isso não acontece. “O próprio livro é o seu suporte físico”, completa.

João Marinho considera que “o e-book e o livro físico vão ter lugar no futuro, lado a lado”, até porque têm “públicos diferentes” e vão continuar a tê-los “durante muito tempo”. As pessoas têm, geralmente, a “expectativa” de “ter um livro mais barato quando é comprado online, o e-book, do que o seu equivalente físico”, o que é uma “justificação”. Há uma série de valores que se dispensam quando o livro é colocado à venda na Internet, como “o transporte, o estar na loja e a parte física do produto”, refere o responsável pela Rés.