O colapso do sistema eléctrico desliga computadores e televisões. Ninguém comunica pelo Facebook, Twitter, blogues ou e-mail. Também não há rede telefónica. Com muitas lojas fechadas, as pessoas não conseguem comprar baterias para os rádios.

Em tragédias como os sismos no Japão e no Haiti, muitas vezes a informação tem de circular “à maneira antiga”. A comunicação retrocedeu no tempo, num dos países mais conectados do mundo.

Japão: jornal escrito à mão durante seis dias

O “Hibi Shimbun”, o único jornal da cidade japonesa de Ishinomaki, continuou a informar a população local durante a catástrofe. Depois do apagão causado pelo sismo que assolou o Japão a 11 de Março, os jornalistas resolveram redigir o jornal à mão. É “nas circunstâncias mais difíceis que mais se justifica que a informação chegue”, afirma Carlos Daniel, jornalista da RTP que esteve no Japão após o sismo.

Enquanto seis elementos ficaram encarregues de recolher histórias para publicar, outros três jornalistas dedicavam, todos os dias, uma hora e meia à transcrição dos artigos, utilizando marcadores de feltro e folhas A3. Os jornais manuscritos eram, depois, afixados à entrada dos centros de evacuação da cidade.

Índia: Último jornal escrito à mão no mundo

Na cidade de Chennai, na Índia, ainda subsiste um jornal local inteiramente escrito à mão. O “Musalman”, um vespertino de quatro páginas, contém notícias nacionais, locais e desportivas. Na primeira página do jornal é sempre deixado um pequeno espaço em branco, para o caso de surgir alguma notícia de última hora. Quatro profissionais gastam cerca de três horas a escrever cada uma das páginas em urdu. Depois, o jornal é rodado em offset, numa máquina dos anos 50. A circulação é de cerca 20 mil exemplares diários.

Durante seis dias consecutivos, o jornal manuscrito informou sobre a chegada das equipas de resgate às regiões atingidas pelo sismo, incentivou a comunidade a ultrapassar as dificuldades e noticiou a reposição da energia eléctrica.

Para Carlos Daniel, foi “um esforço apreciável” da parte dos jornalistas japoneses, para que continuasse a haver notícias, mesmo num momento difícil. A função do jornalista é “independentemente das circunstâncias, perceber que a notícia não é ele”, mas sim o que “está a acontecer à volta dele”, acrescenta.

Pela experiência que teve no terreno, Carlos Daniel afirma que, num primeiro momento, os japoneses procuravam sobretudo informação sobre risco de réplicas fortes, de repetição do tsunami, sobre o número e a identidade das vítimas.

O jornalista testemunha ainda que, nestas circunstâncias, existem dificuldades acrescidas no acesso dos próprios jornalistas à informação, na circulação entre as localidades, na obtenção de alimentos e de alojamento.

Também em Sendai, uma cidade da costa japonesa, o jornal Kahoku Shimpo continuou a ser publicado, fornecendo não só notícias sobre a catástrofe, mas também informações úteis, como as lojas que tinham alimentos, as estradas transitáveis ou os bancos com dinheiro em caixa.

Haiti: rádio ajudou a reorganizar as cidades

O sismo de magnitue 7.0 na escala de Richter que abalou o Haiti a 12 de Janeiro de 2010 deixou poucos edifícios intactos, em parte devido ao incumprimento das normas de construção anti-sísmica.

A Rádio Caraíbas viu ruir metade do seu edifício e a outra metade estava instável, mas a antena ficou intacta. Foi o suficiente para que a lendária rádio do Haiti continuasse a transmitir. Num país onde os rumores têm muita força e a esmagadora maioria da população é analfabeta, a Rádio Caraíbas é uma fonte de informação de confiança para a população. E em momentos mais difíceis, é ainda mais importante fazer chegar a informação “do que nos momentos convencionais”, afirma Carlos Daniel.

Com um velho jipe, microfones, dois computadores portáteis e alguns cabos, que fizeram entrar no edifício, ligando-os à antena, os jornalistas começaram a emitir da rua.

Inicialmente, a rádio divulgava mensagens de pessoas que procuravam os familiares desaparecidos. Posteriormente, a equipa da rádio, devido à falta de intervenção das autoridades, decidiu começar a organizar comités em diversos bairros da cidade para ajudar a resolver os problemas.

Carlos Daniel recorda que no início das rádios locais tudo era improvisado. Trabalhando em garagens ou pequenos anexos, os jornalistas da altura utilizavam “emissores pequenos para conseguir fazer chegar o som”. “Quando a vontade de fazer é grande, permite superar as dificuldades”, acrescenta.

O edifício da Televisão Nacional haitiana (RTNH) sobreviveu ao sismo. Apesar de o canal ter deixado de emitir na noite do dia 12, a emissão foi retomada no dia seguinte, recorrendo aos sinais das cadeias televisivas europeias. A partir de 14 de Janeiro, todas as noites era feito um jornal especial em directo, a partir de um estúdio colocado em frente ao tribunal.

RTP-Madeira em emissão contínua a 20 de Fevereiro

Também durante o temporal de 20 de Fevereiro de 2010, na Madeira, a RTP-Madeira emitiu informação permanentemente. Minuto a minuto, a redacção da RTP-Madeira trabalhou para levar aos madeirenses notícias da tragédia.