Em comemoração do Ano Internacional da Química, os alunos do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), deram esta terça-feira, as boas vindas a Ada Yonath, a primeira mulher israelita a ser galardoada com o Prémio Nobel da Química, em 2009. A palestra debruçou-se sobre a investigação desenvolvida pela mesma nos últimos trinta anos sobre os mecanismos da biossíntese de proteínas, através da cristalografia de ribossomas.

O ribossoma é uma máquina celular complexa que permite a tradução do código genético em proteínas, possuindo uma grande funcionalidade molecular. “Na minha opinião, o ribossoma é espantoso”, refere Ada Yonath. “Penso que a natureza colocou uma enorme e espantosa funcionalidade nesta máquina molecular”, diz Ada Yonath.

Na procura de antibióticos mais eficientes

O conhecimento sobre os ribossomas está em constante desenvolvimento e alimenta cada vez mais a esperança de que sejam encontrados antibióticos mais eficientes que os actuais.

Muitos antibióticos colocam em causa a saúde dos ribossomas, paralisando a produção de proteínas vitais, mas as bactérias têm oferecido uma crescente resistência à acção desses medicamentos. “Os antibióticos são produto de bactérias que, quando têm problemas, lutam e fabricam armas umas contra as outras. Estamos a tentar usar essas armas para parar a função patogénica dos antibióticos que causa doenças”, defende a Prémio Nobel da Química.

A cientista comparou a acção dos antibióticos – sintéticos ou produzidos naturalmente pelos organismos vivos – sobre os ribossomas à luta de Davi contra o gigante Golias. “As moléculas dos antibióticos são bem menores que os ribossomas, mas podem entupir os túneis dos ribossomas e impedir a produção de proteínas, essenciais à manutenção dos seres vivos”, conta.

Ada Yonath considera que a “resistência aos antibióticos é um dos principais problemas da medicina moderna”, pelo que continua a sua investigação para “compreender como essa resistência é feita”, numa constante procura por medicamentos mais eficazes.

A cristalografia e os ursos polares na análise do ribossoma

A procura de antibióticos mais eficazes ganhou força depois de se ter conseguido formar cristais de ribossomas, que permitiram ver o seu envolvimento na regulação celular através da cristalografia de raios X, obtida pelo resfriamento das células que possuem essas estruturas. “Utilizamos a cristalografia porque queríamos ver a diferença entre átomos que nenhuma lente consegue ver e a cristalografia utiliza cristais para entender a estrutura”, afirma a Nobel da Química.

Contudo, a procura desses cristais não foi fácil. Muitos cientistas tentaram fazer crescer cristais nos ribossomas através da cristalografia mas não conseguiram. Apenas nos anos 70 a solução foi encontrada quando se descobriu que os ribossomas estão organizados dentro da membrana celular dos ursos polares, permanecendo activos. A partir deste caso, Ada Yonath descobriu que os “cristais seriam feitos através da cristalização dos ribossomas resultantes de bactérias que desaparecem em condições bastante extremas”.

No final da apresentação, Ada Yonath referiu que, tão importante quanto o Nobel, foi receber o Prémio de Avó do Ano, concedido por uma das suas netas. Agradeceu, também, ao Instituto Weizmann por terem contribuído para a realização dos seus sonhos. Quanto ao futuro da ciência, a cientista espera que “haja sempre questões a fazer” e lembra que os “cientistas vão arranjar sempre forma para trabalhar”.