Num país fortemente abalado pela crise e minado pela intervenção do FMI, a construção civil é um dos sectores em declínio: há desemprego, salários em atraso e cada vez mais emigração.

Diariamente, “cerca de 100 trabalhadores da construção civil ficam sem trabalho”. Estas são palavras do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Construção Civil, Albano Ribeiro, que alerta para o “afundamento” do sector.

Em consequência da crise em que Portugal está mergulhado, foi anunciada a suspensão de algumas obras públicas, como alguns troços do TGV. Neste sentido, “haverá um desvio de dinheiro das obras públicas para atacar outros problemas sociais”, podendo trazer “problemas a mais de 50 mil trabalhadores” que poderão “deixar de ter emprego no sector da construção civil e obras públicas”, explica Albano Ribeiro. Esta situação fará disparar o desemprego neste sector de actividade.

Além de mão-de-obra excedentária, cerca de 10 mil trabalhadores da construção civil têm salários em atraso, anunciou o presidente do sindicato. “A tendência é para aumentar o número de trabalhadores com salários em atraso”, alerta Albano Ribeiro. Este “fenómeno” começou nas pequenas e médias empresas. No entanto, até as grandes empresas estão a ter dificuldade em pagar aos funcionários.

Para o sindicalista, este atraso deve-se ao facto de a construção ao nível habitacional ter “batido no fundo”. “Numa situação normal, 70% dos 600 mil trabalhadores do sector estariam ligados à construção de habitações e os restantes 30% às obras públicas”. Mas hoje, a “construção residencial e de outros edifícios tem uma ocupação de apenas 40%”, daí o “elevado desemprego e o atraso nos salários”, explica Albano Ribeiro.

Com a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) a situação vai complicar-se ainda mais. “O FMI já está a dizer que as casas poderão ficar mais caras, logo não se compram casas, o que vai afectar o sector”, sublinha o presidente do sindicato. Para Albano Ribeiro, “a construção civil e obras públicas é o motor de qualquer economia” e se não se gerar riqueza a partir deste sector, “não haverá dinheiro para pagar a dívida ao FMI”.

A solução passa, segundo o sindicalista, pelo “estímulo ao trabalho, pagando mais aos trabalhadores” e pela requalificação urbana, que “criaria mais de 100 mil postos de trabalho” e tornaria as cidades “mais seguras e mais bonitas para quem as habita e para os turistas que as visitam”, sugere Albano Ribeiro.

Quem não tem trabalho emigra

Com a crise no sector da construção civil, são muitos os trabalhadores que emigram à procura de uma vida melhor. Se o governo avançar com a suspensão das obras públicas, “prevê-se que haja a maior vaga da história do sector a curto prazo”, afirma o presidente do Sindicato de Trabalhadores da Construção Civil.

A mão-de-obra excedentária e os salários baixos são algumas das razões da emigração. “Um salário de 545 euros por mês não é apelativo” e, por isso, “os trabalhadores procuram salários mais altos e com maior qualidade fora”, explica Albano Ribeiro. Angola, Moçambique, Brasil e Espanha são alguns dos destinos escolhidos pelos portugueses. Nestes países, o salário na construção civil pode variar entre os 1 000 e 3 000 euros.

Domingos Resende tem 50 anos, vive em Grijó e esteve em Espanha durante cinco anos a trabalhar na construção civil. Emigrou para conseguir “melhores condições de vida”, porque em Portugal “não havia trabalho”. E continua a não haver. “Aqui a construção está parada. Não há dinheiro, a não ser para pequenos restauros em casas antigas”, lamenta.

O trabalhador da construção civil confessa que em Espanha há “melhores condições de trabalho”, porque há mais “segurança e mais maquinismos”, explica. No entanto, em Espanha também há poucas oportunidades de trabalho e, por isso, é que voltou para Portugal. No entanto, neste momento está desempregado. Para Domingos Resende, “era preciso que o nosso Estado tivesse mais dinheiro para fazer muitas obras e para os trabalhadores ganharem muito mais”, porque “se não houver trabalho não há dinheiro e se não há dinheiro não há trabalho”, remata.