Com a conjuntura económica actual, são milhares as famílias que se vêem obrigadas a apertar o cinto. Em muitos dos lares portugueses, os dois salários viram-se reduzidos e, em alguns casos, um deles foi eliminado. As prestações do carro, da casa e das viagens começam a apertar e, com menos um salário, o dinheiro começa a faltar.

“Will current socioeconomic trends produce a depressing future for men?” é o nome de um estudo da autoria de Dunlop e Tanja Mletzko, publicado no “British Journal of Psychiatry“. Os autores constatam que a depressão em indivíduos do sexo masculino tende a aumentar com as dificuldades económicas. O artigo ressalva, também, o tradicional papel e responsabilidade do homem no lar, enquanto chefe e principal sustento da família, que, com a crise, se vê comprometido devido ao despedimento de muitos chefes de família.

Lígia Águeda, directora-técnica da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, afirma que em Portugal ainda não existe nenhum estudo relacionado com a influência da crise económica nos homens. “O facto de uma pessoa trabalhar e estar inserida socialmente são sempre factores de compensação, da mesma forma que uma rede familiar e de amigos saudável vai ser sempre favorável e protectora. Se um desses elos cai, estamos mais vulneráveis ao stress, ansiedade e, depois, a deprimir”, afirma a psicóloga.

A depressão pode surgir de várias formas e seria errado se colocássemos todas as depressões no mesmo saco. O psiquiatra João Palha ressalva a variedade de depressões existentes, dizendo que são as causas que distinguem as diferentes perturbações dos seus doentes. Derivadas da crise surgem as depressões reactivas, fruto de uma perturbação ao meio ambiente. “As perturbações podem ser causadas por problemas no emprego, afectivos, etc”, explica o psiquiatra.

“Obviamente que, quando a vida fica mais difícil, a possibilidade da pessoa ficar mais triste é maior. Inicialmente a tristeza não é uma depressão, mas quando se agrava e perpetua no tempo, ficando muito intensa, pode tornar-se uma depressão reactiva às dificuldades que a pessoa tem na vida”, elucida João Palha.